Capitulo Treze

quarta-feira, 4 de abril de 2012.
Já era oito e meia quando eu acordei na manhã seguinte. Levantei correndo e fui tomar banho. Enquanto procurava algo para vestir um copo de sangue esquentava no micro-ondas. Vasculhei meu guarda-roupa e acabei decidindo por um short curto de jeans azul e uma blusa rosa bebê tomara-que-caia.

Eu estava terminando de pentear os cabelos quando ouvi três leves batidas na porta. Fui até ela e a abri ainda com a escova de cabelo na mão.

Ele estava lá, lindo como sempre. Vestia uma bermuda de tactel preta e uma camisa de meia manga vermelha, cabelos levemente desarrumados, seu sorriso estonteante e profundos olhos cor de mel que me olhavam intensamente.

- Entra. – eu disse.

- Bom dia. – ele disse entrando.

- Bom dia. Sente-se, já estou terminando. – eu disse indicando uma poltrona ao lado da minha cama. Por acaso, hoje meu quarto estava incrivelmente arrumado, com tudo em seu devido lugar.

O quarto parecia tão pequeno com ele ali dentro.

Coloquei a escova de cabelos no banheiro e me olhei no espelho. Ajeitei os cabelos ainda molhados e sai do banheiro. Calcei meu All Star e fui pegar minha mochila.

Enquanto eu andava pelo quarto podia sentir os olhos de Marco me seguindo.

- Terminei. Vamos? – eu disse virando para encará-lo.

- Claro. – ele disse se levantando. – Eu estava pensando que ao invés de irmos para a biblioteca nós poderíamos ir para o jardim e sentar em uma das mesas de piquenique. O que você acha? – continuou ele enquanto saiamos do dormitório.

- Por mim tudo bem.

Chegamos ao jardim e ele estava vazio. Afinal era sábado as nove da manhã, todos deveriam ainda está dormindo. O dia estava bonito, o sol brilhava e no céu havia poucas nuvens. Sentamos em uma das mesas e eu tirei meu caderno e estojo de dentro da mochila.

- Deixe-me ver as perguntas. – disse Marco. Eu entreguei a folha a ele. – Fiquei sabendo que você deu uma surra em Diogo ontem. – continuou ele distraidamente.

- Eu não dei uma surra nele! – eu disse. – Foi só um soco! E não é culpa minha se ele gosta de assustar as pessoas. Eu estava muito bem correndo distraidamente no ginásio e ele chega sem fazer barulho colocando a mão pesadamente no meu braço. O que você queria que fizesse?

- Calma. Eu não estou te julgando. Confesso até que gostei. Ele ficou desolado por uma vampira nova conseguiu tirar sangue dele. – disse Marco rindo.

- Bem feito. Quem sabe assim ele aprende a parar de susto nos outros.

- Me lembre de nunca te assustar. – ele disse ainda rindo.

- Ha ha! Muito engraçado, Sr. Sartre!

- Sério, como você consegue fazer essas coisas? – ele perguntou.

- Não faço a mínima ideia. E sabe isso é uma merda!

- Por quê?

- Sabe como é todo mundo ficar te olhando de canto de olho? Saber que todo mundo cochicha sobre você? Bem, não deve saber. E isso não é a pior coisa, até por que eu não estou nem aí para o que as pessoas pensam, o pior é que eu não sei a resposta para nenhum das perguntas que ficam rondando a minha cabeça todos os dias.

Nós ficamos em silencio por alguns minutos, só havia o som do vento movimentando as folhas das árvores e o da caneta se arrastando pelo papel. Mas ao invés de ser um silencio pesado e desconfortável era justamente o oposto um silêncio confortável, leve.

- Mel... – eu o olhei. - posso te chamar assim, não é? – Marco disse estranhamente envergonhado.

- Claro, todo mundo me chama assim. – eu disse com um meio sorriso.

- Então, Mel, como foi sua vida depois que você foi adotada?

- Minha vida era ótima. Meus pais adotivos eram maravilhosos, eu tinha muitos amigos, morava em uma casa linda, ela era grande demais só para três pessoas, mas eu gostava de lá. Eu costumava brincar com meus amigos dentro dela, nós corríamos a casa inteira subindo e descendo as escadas. Minha mãe ficava louca, sempre muito preocupada de cairmos. Ela era uma mulher muito bonita, carinhosa e me dava tudo que eu quisesse. Meu pai já era mais seco, porem eu era muito mais apegada a ele... eu gostava de sentar no colo dele na pequena biblioteca que tínhamos em casa e ouvir ele ler para mim... sua voz grave dava mais emoção às histórias.

Marco me olhava encantado, como se significasse muito para ele eu dividir minhas lembranças com ele.

- Nos meus primeiros anos como vampira eu sentia muita falta deles apesar de Daniel sempre cuidar de mim. Daniel... agora eu sinto tanto a falta dele...

- Você gosta muito dele. – Marco comentou.

- Eu o amo. Ele é um pai para mim. Era ele que me acalmava quando eu acordava no meio da noite aos gritos por ter tido pesadelo, ele que enxugava minhas lagrimas quando eu chorava, ele quem me abraçava quando eu tinha medo, ele que me dizia que ficaria tudo bem quando tudo dava errado. Ele mais do que Luiz, meu pai adotivo, é o pai que eu nunca tive. – suspirei.

Estava pensando nelas de novo, aquelas visões minha cabeça. Ok, quem pensaria nisso com um Marco mais que delicia parado na sua frente? Só uma idiota... ou Melany Lisli!

Um minuto depois Marco disse:

- Acabei.

- Ahã?

- Terminei de responder as perguntas.

- Mas eu nem te dei o texto!

- Estava fácil, eu acho que já estudei isso umas dezenas de vezes. – ele disse com aquele meio sorriso perfeito.

- Ah, então por que é que você me fez vim para cá com você?

- Por que passar o tempo com você é divertido, tu é engraçada! – ele disse com o mesmo sorrisinho.

- Você está me chamando de palhaça? – eu perguntei arqueando uma sobrancelha e com a expressão seria, mas me contorcendo para não rir.

- Não, não foi isso que eu quis dizer é só que... É... Assim... – ele disse gaguejando.

- Hei, não gagueja, não! – eu disse mal escondendo um sorriso.

- Eu quis dizer que... Eu... É... Eu gosto da sua companhia. – ele disse.

Eu sorri.

- Também gosto da sua companhia.

Ele sorriu, pegando minhas mãos que estavam sobre a mesa.

- Sabe o que eu mais gosto em você? – ele perguntou me encarando com intensidade.

- Não. – eu disse num sussurro.

Eu estava nervosa, envergonhada, assustada e extremamente feliz, tudo ao mesmo tempo.

- Seus olhos, eles são lindos e profundos como o mar, são um livro aberto para quem sabe lê-los. – ele disse olhando-me profundamente, seus longos dedos faziam pequenos círculos nos meus pulsos, que me deixava tranquila. Sorri.

- Eu gosto do seu sorriso. – eu disse, timidamente. – É lindo e as covinhas o torna perfeito.

- Eu gosto quando você fica envergonhada, suas bochechas ganham um lindo tom rosado.

- Eu gosto da sua voz, ela me acalma.

- Eu gosto quando você fica irritada, é tão charmoso. – ele disse sorrindo.

- Eu gosto dos seus olhos, eles são tão profundos, acolhedores, quentes...

Em seus lábios se formou um grande sorriso, então eu me dei conta do que tinha dito e minhas bochechas ficam super quentes, desviei o olhar.

Uma de suas mãos acariciou minha bochecha, seu polegar passou levemente sobre meu lábio inferior, fazendo minha boca abrir automaticamente, seu dedo indicador se dirigiu para o meu queixo e levantou meu rosto para que eu o olhasse nos olhos.

Nós estávamos muito próximos, tínhamos nos inclinado inconscientemente durante a conversa que havia se tornado confissão. Marco se inclinou para mais perto ficando a menos de um centímetro de mim. Eu o olhava nos olhos e neles havia um pedido de permissão.

Eu sorri.

Ele me beijou.

Eu fechei os olhos.

Senti seus lábios tocarem os meus delicadamente e no inicio foi só isso um leve tocar de lábios, então sua língua passou ligeiramente sobre meu lábio inferior. Separei os lábios convidando-o a entrar. Sua língua se apoderou da minha boca vagarosamente, explorando cada canto dela. Seus lábios eram macios e quentes contra os meus. O beijo foi se tornado mais profundo e oh, Senhor Jesus, ele beijava tão bem! Eu também não estava submissa, minha língua explorava sua boca memorizando cada pedacinho dela. O beijo intenso e profundo foi se transformando em calmos selinhos, até que já não estávamos mais beijando, nossos lábios simplesmente se encostavam.

Ele sorriu nos meus lábios e me deu mais um selinho, eu sorri também e retribui o selinho.

Ele se afastou ainda sorrindo, suas mãos seguravam meu rosto.

- Eu gosto de te beijar. – ele disse.

- Eu gosto quando você me beija.

Seu sorriso se tornou mais amplo.

- Que bom, por que eu pretendo te beijar muito.

Enquanto ele se levantava e parava ao meu lado eu corava violentamente.

Ele estendeu sua mão para mim, eu a pequei e levantei. Marco passou os braços ao redor da minha cintura me abraçando com força porem cuidadosamente. Passei meus braços em volta de seu pescoço e descansei minha cabeça em seu peito largo e forte. Seus lábios foram pra minha orelha e ele disse:

- Quando soube que você vinha para a Academia achei que você era apenas mais uma vampira. Bonita como todos os vampiros, fútil e arrogante como qualquer vampira nova que se acha a melhor, a mais bonita e que se joga em cima de qualquer cara mais antigo. Mas quando eu te vi pela primeira vez entrado na sala de aula com postura e andar confiante, quando você disse aquelas coisas para o Alex... – ele riu baixinho, seu sotaque era pesado quando ele falava desse jeito.

E... uau! As coisas que ele estava me falando!

- Eu devo te dizer que Alex ficou encantado, assim como eu. – continuou ele. – Mas não é só por isso que eu fiquei encantado é por tudo em você, seu jeito de sorrir, sei jeito de tratar as pessoas, tudo em você me encanta.

Ele era tão perfeito! Eu estava no céu.

- Depois daquela primeira aula juntos eu passei a observar você e quando te encontrei no ginásio, você estava tão naturalmente linda distraída tocando violão habilmente e cantando com uma voz só poderia pertencer a um anjo. E quando naquele mesmo dia no ginásio você parou de falar e ficou encarando o nada e depois meio que desmaiou, ou quando você ficou desacordada por um dia inteiro eu fiquei tão preocupado. Quando eu vi o quão vulnerável você é eu senti uma necessidade tão grande de te proteger. – ele me apertou mais contra ele.

- Marco, eu...

- Shsh... não diga nada, só me deixe te abraçar. Eu gosto tanto de te ter assim, segura nos meus braços.

Sorri me acomodando melhor no abrigo dos seus braços. Ficamos assim por não sei quanto tempo. Eu me sentia confortável, em seus braços era acolhedor, familiar, natural.



“She lives in a fairy tale

Somewhere too far for us to find

Forgotten the taste and smell

Of the world that she's left behind”



Meu celular começou a tocar e eu relutante tentei me afastei.

- Aonde você vai? – Marco perguntou me apertando mais.

- Atender o celular. – eu disse sorrindo.

- Hum... Deixa tocar. – ele pediu me beijando a ponta do nariz.

- Tentador. – eu disse sorrindo. – Mas pode ser uma coisa importante.

- Ok, atende esse bendito celular.

Afastei-me dele lhe dando as costas e assim que eu pequei o celular ele me abraçou pelas costas descansando seu queixo no meu ombro esquerdo.

- Alô?

Silêncio.

- Alô? – eu repeti e... Nada.

– Alô? – tentei novamente.

- Quem é? – disse Marco.

- Não sei, ninguém responde.

- Então desliga. – ele disse beijando meu pescoço.

- Tem alguém aí? – eu disse, mas ninguém respondeu então quando ia desligar eu ouvi uma voz grossa, rouca, aterrorizante dizer:

- Eu sei onde você está. Não adianta se esconder dentro da Academia...

Silêncio... tu... tu... tu... A linha caiu.

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