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Capitulo Três

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010.
Quando chegamos ao meu quarto eles viram a situação de caos total. Vi em a mesma expressão de choque em todos. Eu podia até imaginar o que eles estavam pensando:

“Como uma pessoa pode ter tanta coisa?!”

Sorri envergonhada.

- Hum... Pessoal se vocês não qui...

- Wow! – disse Bruno me interrompendo. – É melhor nós começarmos logo se quisermos sair daqui ainda hoje.

Todos riram.

- Então mãos a massa. – disse Marcelo indo em direção a primeira caixa.

Começamos a arrumar o quarto.

Primeiro esvaziamos as caixas e malas. E depois arrumando tudo.

Cerca de duas horas e meia depois estava quase tudo arrumado, só faltava uma mala de tamanho considerável para esvaziar.

Quando Bruno começou a abrir a mala eu disse:

- Não! – esta bem, quase gritei. – Essa pode deixar que depois eu arrumo. – disse mais controlada.

- Por que não arrumamos tudo agora? – ele disse franzindo o cenho.

- Por que aí só tem coisa de mulher e eu prefiro arrumar sozinha. – disse.

Eu podia sentir minhas bochechas quentes. Mas as dos meninos estavam de um vermelho vivo.

- É... Sim então é melhor você mesma arrumar sozinha. – disse Bruno.

- O que tem ali dentro? – perguntou Carol com uma sobrancelha levemente arqueada.

- Lingerie.

- E...? – disse Isabel.

- Só lingerie.

- O que? – disse Carol arregalando os olhos, tamanho o espanto.

- Lingerie. – disse mega envergonhada.

Elas me olharam com os olhos arregalados pela surpresa, mas logo ficaram curiosas.

- Então você vai ter que nos mostrar qualquer dia desse, ok? – disse Carol.

- Ok. – respondi.

Então me lembrei que não tinha visto uma coisa em particular enquanto arrumava o quarto. Comecei a andar pelo quarto de um lado para o outro procurando em todos os lugares. E não achei. Fiquei frustrada. Como eu me esqueci de algo tão importante?

Olhei para os meus amigos e eles me olhavam com curiosidade.

- Mel, o que você tanto procura? – perguntou Isabel.

- Meu violão. – disse. – Não está aqui.

- Congela aí. Você toca violão? – perguntou Carol.

- Sim. Não vivo sem música. – disse triste.

Mas que merda! Como eu ia ficar sem meu violão? Como pude esquecer-me de trazê-lo? Normalmente é a primeira coisa que eu pego quando vou viajar ou quando eu e Daniel nos mudamos. Eu deveria estar pensando muito em como não ir para a academia e não me lembrei do meu velho companheiro.

Suspirei. Mas então sorri. Depois eu ligaria para o Daniel e ele mandaria o violão pra mim. Simples! Sem motivos pra ficar triste e fazer meus novos velhos amigos de infância tristes também.

- Chega de tristeza gente! Vamos Brindar? Afinal, todos sobreviveram à aventura de transformar aquele caos total em um quarto decente. – disse rindo.

Todos riram comigo.

- Vamos brindar! – disse Marcelo.

- Sim, sim vamos brindar. – disse Bruno sorridente como sempre.

Fui até o frigo-bar, pequei as bolsas de sangue e refrigerante, enchi quatro copos com o sangue e um com refrigerante e coloquei os de sangue no micro-ondas por aproximadamente um minuto. Tirei-os e brindamos.

- A Melany! – disse Marcelo.

- A organização do quarto! – disse Carol.

- A nossa amizade! – disse Bruno.

E então brindamos e rimos.

Depois que eles foram embora eu liguei para o Daniel. Logo no primeiro toque ele atendeu.

- Alo? – disse ele.

- Pai?

- Mel! – disse com uma voz entusiasmada.

- Oi. – disse simplesmente.

- O que houve? – agora sua voz estava preocupada. Eu pude até ver as suas negras sobrancelhas se juntando.

- Eu esqueci meu violão. – disse. – Manda ele pra mim?

- Claro, filha! – disse aliviado.

- Obrigada!

- Como é que foi o primeiro dia na academia?

Comecei a contar pra ele tudo o que aconteceu muito entusiasmada. Só omiti o detalhe do dampiro mais perfeito do mundo. Não queria que Daniel pensasse que magicamente eu ia achar o amor da minha existência nem nada disso.

Depois de mais de meia hora no telefone, finalmente Daniel desligou e eu pude tomar um banho. Depois coloquei uma camisola e fui dormir.

Quando acordei no outro dia tomei banho e vesti meu uniforme. Sim uniforme, que coisa mais sem graça, não é?

O uniforme era estilo normalista, sabe? Saia de pregas vermelha e blusa social branca. Básico.

Calcei minha sapatilha preta peguei minha mochila lilás e sai do quarto olhando meu horário pra ver qual seria minha primeira aula.

Primeiro tempo:
Língua Alemã – prof. Fernando Soares

Segundo tempo:
Magia Elementar – profa. Catherine Spittle

Terceiro tempo:
Literatura – profa. Elissa Magroski

Quarto tempo:
Defesa Pessoal - prof. Mark Scabio

Almoço.

Quinto tempo:
Filosofia – prof. Andeas Sutter

Sexto tempo:
Língua Portuguesa – profa. Esme Louvain

Sétimo tempo: (opcional)
Dança – profa: Pietra Lesco
Poema – prof. Yevo Casting
Teatro – prof. Jeff Hunter

Oitavo tempo:
Hipismo – prof. Anthony Peterson

Arg! Isso ia ser complicado! Ah, um pequeno detalhe, eu não sabia aonde eram dadas as aulas. Fantástico!

Eu ia ter que procurar.

Suspirei.   

- Com o tempo você se acostuma.

Olhei para o lado e vi Isabel saindo do seu quarto. Nem tinha percebido que ela estava se aproximando.

Ela sorriu e saiu me arrastando.

- Vem, Mel. Vamos nos encontrar com os outros para irmos juntos para a aula. A propósito qual é a sua primeira aula?

- Alemão.

Ela parou.

- Alemão? – ela perguntou com o cenho franzido.

- Sim, por quê? – disse. Já estava ficando preocupada. O que havia de errado com alemão?

- Nada, é só que normalmente a gente faz inglês ou espanhol.

- Ah, eu já falo inglês e espanhol.

- Já? – pergunto Isabel com a expressão meio confusa.

- Já.

Ela deu de ombros e me arrastou pela academia até encontrarmos Bruno, Marcelo e Carol. Depois me levou para o anexo três onde ela disse que era minha primeira aula. Depois que me deixou na porta da sala foi embora com os outros.

Entrei na sala.

A sala era de tamanho proporcional ao numero de alunos. Que contando comigo eram vinte. As paredes eram de cor creme, as mesas e cadeiras eram da mesma madeira preta que a porta. Na verdade eu acho que tudo que é de madeira aqui é feito com a essa madeira preta, que, alias, eu não sei o nome.

Ah, uma sala inteira de completos desconhecidos e ainda por cima em uma aula de alemão.

Isso ia ser um desastre!

Sim, às vezes eu sou pessimista.

O professor entrou na sala saudando a turma. Ou pelo menos foi o que eu achei, já que eu não entendi absolutamente nada.

Eu afundei na minha cadeira no canto direito ao fundo da sala.

Suspirei.

- To ferrada. – murmurei baixinho levando as mãos ao rosto. 

- Você não deveria estar fazendo inglês ou espanhol? – perguntou uma voz masculina baixa.

Olhei para o lado e vi um cara de cabelos loiros e curtos, com olhos verde jade, pele branca, com as bochechas proeminentes e traços masculinos no rosto. Não dava pra saber se ele era alto ou baixo já que ele estava sentado, mas eu tinha a leve impressão de que ele não baixinho não. E estava vestido com o mesmo uniforme que eu. Mas, é claro, não usava saia e sim uma calça.

Ele era bonito. Certo, ele era lindo. E era um dos que estavam com aquele dampiro perfeito, no refeitório.

Ah, ele era um vampiro.

- Oh! No meu horário está alemão e eu já falo inglês e espanhol. – disse.

Ele me encarou por alguns segundo, me olhando dos pés a cabeça e disse sorrindo levemente:

- Eu sou Alex.

- Melany.

- Eu sei. – ele disse e seu sorriso aumentou.

- Ahãn?

Agora eu estava confusa. Como ele sabia o meu nome?

- Você está sendo esperada por toda a academia, Melany. Todo mundo aqui te conhece.

Agora eu já não estava mais confusa. Eu estava aterrorizada.

Pude sentir meus olhos se arregalando. Como assim eu estava sendo esperada? Como assim todo mundo me conhecia?

Meus olhos realmente devem ter se arregalado, pois Alex sufocou uma risada. O que fez o professor olhar pra nós com uma expressão carrancuda. Ele falou alguma coisa em alemão e Alex respondeu também em alemão.

Conclusão: não entendi nada.

Alex me olhou e disse:

- Você não gosta de saber que todo mundo te conhece? Você deve estar acostumada que todos a conheçam.

- Não gosto de saber que todo mundo me conhece e não estou acostumada que todos me conheçam. – disse com semicerrando os olhos.

Agora ele foi quem ficou confuso.

- Não gosta? – perguntou incrédulo.

- Não. – respondi.

- Todas as garotas gostam de saber que todos a conhecem. – ele disse isso como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

- Eu não sou como todas as outras garotas. – disse. – E você não deveria generalizar.

- Todas as garotas que eu conheço são assim. – ele disse.

- Então você deveria conhecer outras garotas. - dizendo isso me virei para prestar atenção à aula.

Ele não disse mais nada, mas eu podia sentir o seu olhar sobre mim.

As aulas de Magia Elementar e Literatura passaram rápido.

Magia elementar foi... constrangedor.

Eu era a única que ainda não tinha se especializado, apesar de que ninguém na turma dominava seu elemento. Embora a professora Catherine me dissesse a cada cinco minutos pra não me preocupar e que eu ia me especializar eu estava desolada. Ah, fora o detalhe de ser uma turma de vampiros e dampiros mais novos do que eu.

Eu estava quase entrando em depressão quando saí da sala e fui para a aula de literatura. 

Ok, ok, talvez eu esteja exagerando um pouquinho na parte da depressão... Está bem, eu estava exagerando muito.

Literatura foi fácil. Mas o fato de Daniel já ter me dado aulas de literatura antes também pesava bastante. 
 
Saí da sala de literatura e fui para o vestiário me trocar para a aula de defesa pessoal.

Essa também ia ser difícil. Eu era um zero à esquerda quando se tratava de luta corpo a corpo.

Saí do vestiário e fui para o ginásio.

O ginásio era realmente grande. Com janelas altas, paredes brancas e muitos colchonetes azuis. Era dividido em uma área para de musculação e área de treinamento em grupo.

Olhei para os outros dezenove alunos na sala e percebi que aquele vampiro da aula de alemão, Alex, estava lá.

Isso ia ser vergonhoso.

O professor Mark nos mandou formar filas indianas, um atrás do outro sabe? E nos mandou executar alguns movimentos muito simples como ele disse. Depois de uns trinta minutos desses movimentos “muito simples” eu já estava ofegando.

Eu realmente era um desastre!

Não conseguia fazer nada direito, ao contrario dos outros que faziam movimentos perfeitos. E então eu percebi que essa era uma classe de alunos mais velhos.

Mark até que era legal. Isso antes dele dizer:

- Senhorita Lisli, você já tem idade suficiente para fazer essas atividades com uma qualidade muito maior. Vai precisar treinar muito pra consegui acompanhar a turma. É melhor você se esforçar mais.

Eu estava pronta para o mandar ir a merda e dizer que eu estava indo muito bem pra alguém que nunca fez isso antes, mas ele me cortou dizendo:

- Alguém, por favor, ajude-a?

- Eu a ajudo. – disse Alex.

Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

- Está bem. – disse Mark saindo.

Virei-me para Alex.

- Você...

- Vamos, vou te ajudar. – disse ele me interrompendo. 

Como não tinha nenhuma alternativa eu fui.

Eu acabei descobrindo que Alex era um cara super legal. E ele realmente me ajudou muito. Não era como se eu fosse ficar 100% em uma aula, mas eu já estava ‘menos pior’.

Quando acabou a aula eu fui pro vestiário trocar de roupa. Era hora do intervalo. 

Quando saí do vestiário Alex estava me esperando. Ele fez questão de levar minha mochila. Um cavalheiro!

Chegamos ao refeitório e eu estava rindo, mas rindo mesmo. Alex era muito engraçado. Fiquei pensando que seria super ter ele e Bruno no mesmo grupo. Mas acho que Alex só anda com o grupinho popular dele. O que era uma pena.

Enquanto estávamos andando pelo refeitório achei os meus amigos.

Então Alex disse:

- Bom, acho que agora cada um vai para o seu lado. Te vejo depois Mel. Tchau.

- Tchau.

Cheguei à mesa e Isabel me olhava com pura fúria no olhar.

Não entendi nada! O que foi que eu fiz?!

- O que aconteceu Bel?

- Você já esta se jogando pra cima do Alex também?

- O que?

- E isso aí mesmo que você ouviu. Ele estava até carregando a sua mochila.

- Bel, eu não estou dando em cima de ninguém.

- Ah, ta. Então por que você chegou junto com ele?

- Por que eu tive aula de defesa pessoal junto com ele e ele me ajudou.

- E porque você estava cheia de sorrisinhos pra ele?

- Não estava de sorrisinhos pra ele. Eu estava rindo por que ele é engraçado. Só isso.

Ela me olhou como se estivesse decidindo se estava mentido ou não. E então suspirou e disse:

- Desculpa. É que todo mundo sabe que eu gosto dele e mesmo não tendo nada com ele eu fico cheia de ciúmes quando alguma garota chega perto, ainda mais uma garota tão linda como você.

O clima ficou pesado, mas depois de uns instantes de silencio bruno fez uma piada e todos nós rimos...

Conversamos um pouco até que o sinal tocou.

Antes de todos irmos para as salas Carol disse:

- Mel, você já decidiu o que vai fazer no sétimo tempo?

- Faz teatro comigo? – disse Isabel.

- Desculpa amiga, mas não sou uma boa atriz. Eu vou fazer dança.

- Vamos. – disse Marcelo. – Senão vamos chegar atrasados.

- Tchau gente. – disse eu.   

- Tchau. – responderam.

As aulas de filosofia, língua portuguesa, dançam e hipismo voram.

Filosofia e língua portuguesa foram mega fáceis.

Dança também foi super fácil. A professora Pietra era magnífica.

Hipismo foi um pouco mais difícil, mas o professor Antony era um excelente professor.

Quando acabaram as aulas, eu estava cansada. Não fisicamente é claro, mas mentalmente eu estava um bagaço. Decidi ir para o quarto descansar um pouco.

Cheguei ao quarto tomei um banho, deitei na cama e apaguei.

Eu estava sonhando com ele. Aqueles olhos cor de mel, aquele sorriso maravilhoso, aquela pele morena, aquele corpo músculo que emanava poder e força vindo em minha direção com um andar sexy.

Ele estava exatamente como o vi pela primeira vez. E eu estava sorrindo bobamente pra ele.

De repente o sonho se transformou em pesadelo.

Aqueles olhos mel viraram dois olhos tão negros como à meia-noite. Aquele sorriso maravilhoso virou uma fileira de dentes grandes, afiados e absurdamente assustadores. Aquele corpo musculoso e que emanava poder e força virou um corpo peludo, com pelos marrons que emanava terror absoluto. E aquele andar sexy virou uma corrida agressiva.

Então eu o reconheci. Era o lobisomem que tinha me atacado no dia da minha transformação.

Eu acordei.

Minhas mãos suavam e meu corpo tremia. Mas esses eram “sintomas normais” para esse pesadelo. O que realmente me assustou foi a dor na minha cabeça.

Minha cabeça doía tanto que quando eu abri os olhos tive a nítida impressão de que o quarto estava mais baixo.

Fui apoiar as mãos na cama para levantar e encontrei... nada.

Que estranho!

Olhei para baixo.

Arfei, entrei em desespero e depois gritei, mas gritei mesmo. Gritei tanto que com o eco no quarto fechado o barulho era ensurdecedor.
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