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Capitulo Um

sexta-feira, 1 de outubro de 2010.
CAPITULO UM

       Eu estava de biquíni sentada na minha canga, na areia de frente pro mar. O mar estava lindo, o verde se juntando com o azul do céu... Meus pensamentos  estavam longe... Em um lugar muito diferente há anos atrás.
As lembranças da minha transformação não são muito claras.

Eu tinha ido com um grupo de dez amigos fazer trilha. A floresta era linda. Com árvores enormes e centenárias de um verde esmeralda, e o dia era ensolarado; o que não acontecia com muita frequência por lá . Mas apesar de ser um dia ensolarado, a floresta era tão densa que poucos raios de sol chegavam ao chão.
Nós já estávamos no meio da floresta quando resolvemos parar para descansar e comer um pouco.
Foi então que eu vi, lobos, uma matilha de uns sete lobos enormes, mas enormes mesmo, com uma fileira de dentes grande, brancos, provavelmente muito afiados e extremamente assustadores.
Nós entramos em pânico, todo mundo começou a corre; o que não adiantou muita coisa. A ultima coisa que eu vi foi um daqueles monstros enormes, de pêlos marrons, vindo em minha direção em uma corrida agressiva.
Eu não sei o que aconteceu depois nem quanto tempo eu fiquei desacordada. Acordei sentido alguém tocando levemente o meu ombro.
Uma voz masculina calma e melódica sussurrou algo que não eu consegui entender.
Eu forcei as minhas pálpebras a se abrirem, meu corpo estava fraco e  dolorido, respirava com dificuldade e me sentia muito cansada.
Quando eu finalmente consegui abrir os olhos vi um homem de pele clara, olhos cor de uísque em um rosto com traços retos, bochechas proeminentes, cabelos negros lisos e curtos.
- Não me deixe morrer... – minha voz falhou e minhas pálpebras se fecharam novamente, eu queria pedir, implorar, suplicar que não deixasse morrer, mas minha voz não saía.
- Não vou deixar - disse ele.
E então eu fiquei inconsciente novamente.

Quando eu acordei minha garganta estava seca, eu tinha sede, muita sede. Escutei o leve som de paginas sendo viradas, água caindo e de alguém respirando calmamente, entre outros sons. Senti cheiro de terra molhada, pinheiros verdes, como os da floresta, e mais inúmeros outros cheiros desconhecidos pra mim. Meu corpo estava forte, não estava mais dolorido nem machucado e respirava sem esforço.
O que estava acontecendo comigo?
Eu estava sentido cheiros e ouvindo coisas de um jeito que nunca aconteceu.
Meu corpo estava forte como nunca estevera.
Bom, hora de descobri o que me aconteceu. Abri meus olhos, eu estava em um quarto grande com paredes verde-claro e moveis bege, deitada em uma cama grande e macia, coberta com uma manta de cor branca. Olhei para o lado e vi o mesmo homem que eu tinha visto na floresta, sentado em uma cadeira ao lado da cama, com um livro nas mãos. Na parede ao lado dele havia uma janela aberta onde eu vi as árvores, e a chuva caindo, o que explicava os cheiros e os sons.
Quando ele olhou pra mim seus lábios se abriam em um grande sorriso, sem mostrar os dentes, então ele disse, com a mesma voz calma e melódica que  me lembrava:
- Que bom que você acordou.
- Você não me deixou morrer. – disse surpreendida e sorri.
- Eu disse que não deixaria – respondeu ele. – A propósito, eu sou Daniel.
- Melany. – disse.
- Bom, Melany, nós precisamos conversar.
     Então Daniel me disse o que ele era e no que eu me transformei. No inicio foi difícil de acreditar, mas quando ele falou da força, da visão, audição, olfato, das presas e principalmente da sede de sangue.
Rapidamente me convenci.
Ele também me explicou que o que nos atacou na floresta não eram bem lobos, e sim lobisomens. O que explicava eles serem tão assustadores e tão absurdamente grandes.

Desde então eu vivo com Daniel. Nós nos mudávamos muito obviamente. Já moramos em vários lugares que pensei jamais conhecer. Atualmente estamos  em Cabo Frio, Rio de Janeiro, mas este é o meu ultimo dia aqui com ele, pois amanhã estarei indo para a Academia São Francisco, que fica numa cidadezinha no interior de Minas Gerais.
Eu não estou satisfeita com essa situação, porém Daniel disse que eu deveria ter ido assim que me transformei, mas como eu tenho uma personalidade forte e um gênio levemente difícil - bom, está mais pra bem difícil, mas não importa - eu bati o pé todos esses anos, só que agora não tem jeito eu tenho que ir. Então aproveitarei ao máximo esse dia.
Praia.
Eu amo esse lugar... ah, e sim, nós podemos fiar no sol.
Quando somos transformados todos os nossos sentidos - audição, olfato, visão, paladar e tato - força aumentam em 80%, depois de alguns séculos chegam a 95%. Nossos cabelos e unhas crescem normalmente, porém perdemos todos os pêlos exceto as sobrancelhas. Não precisamos respirar nem dormir, só fazemos por habito. Nosso coração bate como o de um humano adulto normal, entretanto nossa temperatura é mais baixa em torno de 30°C. Bebemos sangue, é obvio, e comemos comida humana uma vez ao dia. Não somos pálidos e nem temos olhos vermelhos. Somos em geral bonitos e atraentes para nossas presas. Temos presas.
Quanta coisa, não?
Daniel falou que todos os vampiros se especializam em um tipo de magia que vem dos elementos, terra, água, fogo e ar. Alguns têm dons especiais além da magia elementar, o que me deixou frustrada, pois eu ainda não especializei em nenhum elemento e nem descobri nenhum outro dom. Ele disse que é por que eu ainda sou muito nova e que eu tenho que esperar mais um pouco.
Mas, hei, eu tenho 55 anos como vampira, não sou tão nova assim!
Bem, mas se você for comparar com Daniel, eu estaria usando fraudas ainda. Pelo que eu sei Daniel tem quase mil anos. Esta bom, eu sou um pouquinho nova ainda.
Vampiras não podem ter filhos, porém por uma dessas esquisitices genéticas vampiros podem ter filhos com mulheres humanas e dampiras.
Dampiros são híbridos nascidos de vampiros e humanas, entretanto, essa gestação é de grande risco para as mulheres humanas, pois dampiros são muito fortes e tendem a quebrar os ossos de suas mães.
Dampiros pode se reproduzir entre si. Seus sentidos e força são 90% maior que os humanos e depois de alguns séculos chegam a 100%. Sua temperatura é como a de um humano adulto normal, assim como o batimento cardíaco. Não necessitam de sangue como os vampiros, eles preferem comida humana. E dampiros podem escolher quando parar de envelhecer, não me pergunte com, mas eles conseguem essa proeza. Acho que eles falam: ‘Hei corpo pare de envelhecer!’.
Foi sem graça, eu sei.
Apesar de existir uma boa quantidade deles, dampiros são mais raros que vampiros. Ele também se especializam em mágica elementar.
Nas academias vampiros e dampiros têm aulas juntos, tanto de magia quanto das outras coisas.
Tudo que eu sei sobre dampiros eu aprendi com o Daniel. Claro eu já vi alguns dampiros, só que a muito tempo atrás.
Eu sempre vivi com Daniel no meio de humanos, não sei como é viver num lugar cheio de vampiros e dampiros. O lado bom é que você não precisa controlar sua força, seus reflexos e nem fingi que não vê e ouvi coisas que pessoas normais não veriam e nem ouviriam.
Eu estou indo para academia, basicamente para aprender a me defender, e me especializar em algum elemento, já que como eu disse ainda não me especializei, porém temos aulas normais também.
Vampiros e dampiros, têm que ir para essas academias para aprender a se defender, por que somos muitos mais fortes que os humanos e não é saudável para eles que façamos esse tipo de aulas com eles.
Daniel me deu aulas durante alguns anos de línguas, geografia, biologia, matemática, Literatura, história ... que ironia pessoas “experientes” como os vampiros e dampiros estudar história.
E eu também já estudei em escolas humanas, foi meio chato. Humanos aprendem muito devagar, quase parando na realidade. Eu tinha que fingi que não sabia mais que os meus professores e deixá-los acharem que estavam me ensinando alguma coisa. E eu recentemente me formei num curso de Paisagismo. E não foi difícil, pois não envolvia atividades físicas. Por que, cá pra nós, fazer atividades físicas em velocidade humana é excessivamente tedioso. Fingi que corre na velocidade deles, fingir ter a força igual à deles.
Muito devagar!
Não dá para mim.

Senti-a se aproximar antes mesmo dela me ver. Deixe-a se aproximar sem olhar em sua direção.
- Hei, Mel!
Olhei para o lado e a vi. Luiza parecia mais uma alemã do que uma brasileira, era alta, com a pele branca e um leve rosado nas maçãs do rosto, magra, mas não como essas super modelos e sim com uma mulher normal, tinha cabelos loiros cheios de cachos naturais e os olhos mais azuis que eu já vi. Ela era linda...
E a única amiga que eu já tive. Em todos esses anos eu nunca deixei ninguém chegar tão perto de mim pra me conhecer. Ela é humana e obviamente não sabe que eu sou uma vampira, mas Luiza é fascinada por vampiros, ela ama livros, filme, seriados... tudo sobre vampiro.
- Hei, Lu! – voltei a olhar o mar.
- E aí, como é que você esta?
- Bem. – suspirei.
- Mel?
- Oi? – olhei pra ela.
- Você tem que ir mesmo? – ela perguntou com uma expressão triste.
- Ah, Lu! Não fica assim.
- Você é a única amiga que eu tenho, Mel. Como eu vou viver sem você? – disse fazendo beicinho.
Eu tive que ri. Apesar de Luiza ser muito simpática, inteligente e linda era também excessivamente tímida, e ela não tinha amigos.
- Você também é a única amiga que eu tenho Lu. Mas eu tenho que ir. Eu não queria, mas meu pai está insistindo muito.
- Ele não é dono da sua vida, Mel. – ela disse com uma voz dura.
Eu estava mega triste de ir embora e por não poder falar pra ela a verdade.
- Não fale assim dele Lu. Ele tem os seus motivos, ele é meu pai e esta fazendo o que ele acha que é melhor pra mim. – eu disse a ela.
Apesar de eu não concordar, pensei.
- Eu vou sentir tanto a sua falta!
- Eu também, Lu! Mas, hei, a gente pode conversar por e-mail, telefone, carta, sinal de fumaça, sei lá.
Ela riu.
– Só você Mel para me fazer rir.
- Mas é verdade. – eu disse e ri.
- Eu sei, eu sei.
Nós ficamos a praia conversando e rindo a tarde inteira.
Quando fomos embora ela disse:
- Mel, você promete que não vai esquecer de mim?
- Claro que não Lu. – disse e sorrir. Você é quem vai esquecer de mim, pensei.
- Tchau, Mel. – ela disse me abraçando forte.
- Tchau, Lu.
Cheguei em casa e Daniel estava na biblioteca, sentado em sua poltrona de couro negro.
A biblioteca era grande, mas grande mesmo, com paredes de cor pêssego, luzes fluorescentes, duas poltronas de couro negro, duas mesas de ipê, prateleiras e mais prateleiras, também feitas de ipê, ocupadas com de milhares de livros. Eu tenho uma forte suspeita de que Daniel tem mais livros do que a Biblioteca Nacional. Ok, exagerei!
Subi para o meu quarto, joguei a minha bolsa na cama e fui toma uma ducha. Vinte minutos depois, Daniel bateu na porta.
- Mel, posso entra?
- Calma aí, estou me vestindo.
Coloquei um short, uma regata.
- Entra. – disse sentando na cama.
Daniel entrou, olhou pra mim por uns 10 segundos, suspirou e disse: -  O que aconteceu, Melany?
- Nada. – menti descaradamente, eu ainda estava triste por ter que ir embora e deixar a Luiza sozinha, e ele sabia o que se passava por minha cabeça.
- Mel, você sabe que tem que ir.
- Eu sei, mas eu não queria deixar a única amiga que eu já tive, Daniel. A única com quem eu fui eu mesma, ou pelo menos o mais próximo disso.
- Mel, Mel! Você ainda tem tanto o que viver, você vai fazer outros amigos na academia. – ele disse isso mais pra ele do que pra mim. Eu sabia que ele se sentia culpado por eu não ter amigos vampiros e dampiros, se culpava por eu ser tão sozinha, por eu ser tão “anti-social” como ele dizia. E eu sempre dizia que não era culpa dele e que estava muito satisfeita em viver só com ele.
- Pai, está tudo bem, eu sei que tenho que ir. – eu disse carinhosamente. – Porém não quer dizer que eu goste da ideia!
- Você vai ser feliz lá, filha. – disse Daniel me abraçando.
- Assim espero. - eu disse.
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