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Capitulo Três

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010.
Quando chegamos ao meu quarto eles viram a situação de caos total. Vi em a mesma expressão de choque em todos. Eu podia até imaginar o que eles estavam pensando:

“Como uma pessoa pode ter tanta coisa?!”

Sorri envergonhada.

- Hum... Pessoal se vocês não qui...

- Wow! – disse Bruno me interrompendo. – É melhor nós começarmos logo se quisermos sair daqui ainda hoje.

Todos riram.

- Então mãos a massa. – disse Marcelo indo em direção a primeira caixa.

Começamos a arrumar o quarto.

Primeiro esvaziamos as caixas e malas. E depois arrumando tudo.

Cerca de duas horas e meia depois estava quase tudo arrumado, só faltava uma mala de tamanho considerável para esvaziar.

Quando Bruno começou a abrir a mala eu disse:

- Não! – esta bem, quase gritei. – Essa pode deixar que depois eu arrumo. – disse mais controlada.

- Por que não arrumamos tudo agora? – ele disse franzindo o cenho.

- Por que aí só tem coisa de mulher e eu prefiro arrumar sozinha. – disse.

Eu podia sentir minhas bochechas quentes. Mas as dos meninos estavam de um vermelho vivo.

- É... Sim então é melhor você mesma arrumar sozinha. – disse Bruno.

- O que tem ali dentro? – perguntou Carol com uma sobrancelha levemente arqueada.

- Lingerie.

- E...? – disse Isabel.

- Só lingerie.

- O que? – disse Carol arregalando os olhos, tamanho o espanto.

- Lingerie. – disse mega envergonhada.

Elas me olharam com os olhos arregalados pela surpresa, mas logo ficaram curiosas.

- Então você vai ter que nos mostrar qualquer dia desse, ok? – disse Carol.

- Ok. – respondi.

Então me lembrei que não tinha visto uma coisa em particular enquanto arrumava o quarto. Comecei a andar pelo quarto de um lado para o outro procurando em todos os lugares. E não achei. Fiquei frustrada. Como eu me esqueci de algo tão importante?

Olhei para os meus amigos e eles me olhavam com curiosidade.

- Mel, o que você tanto procura? – perguntou Isabel.

- Meu violão. – disse. – Não está aqui.

- Congela aí. Você toca violão? – perguntou Carol.

- Sim. Não vivo sem música. – disse triste.

Mas que merda! Como eu ia ficar sem meu violão? Como pude esquecer-me de trazê-lo? Normalmente é a primeira coisa que eu pego quando vou viajar ou quando eu e Daniel nos mudamos. Eu deveria estar pensando muito em como não ir para a academia e não me lembrei do meu velho companheiro.

Suspirei. Mas então sorri. Depois eu ligaria para o Daniel e ele mandaria o violão pra mim. Simples! Sem motivos pra ficar triste e fazer meus novos velhos amigos de infância tristes também.

- Chega de tristeza gente! Vamos Brindar? Afinal, todos sobreviveram à aventura de transformar aquele caos total em um quarto decente. – disse rindo.

Todos riram comigo.

- Vamos brindar! – disse Marcelo.

- Sim, sim vamos brindar. – disse Bruno sorridente como sempre.

Fui até o frigo-bar, pequei as bolsas de sangue e refrigerante, enchi quatro copos com o sangue e um com refrigerante e coloquei os de sangue no micro-ondas por aproximadamente um minuto. Tirei-os e brindamos.

- A Melany! – disse Marcelo.

- A organização do quarto! – disse Carol.

- A nossa amizade! – disse Bruno.

E então brindamos e rimos.

Depois que eles foram embora eu liguei para o Daniel. Logo no primeiro toque ele atendeu.

- Alo? – disse ele.

- Pai?

- Mel! – disse com uma voz entusiasmada.

- Oi. – disse simplesmente.

- O que houve? – agora sua voz estava preocupada. Eu pude até ver as suas negras sobrancelhas se juntando.

- Eu esqueci meu violão. – disse. – Manda ele pra mim?

- Claro, filha! – disse aliviado.

- Obrigada!

- Como é que foi o primeiro dia na academia?

Comecei a contar pra ele tudo o que aconteceu muito entusiasmada. Só omiti o detalhe do dampiro mais perfeito do mundo. Não queria que Daniel pensasse que magicamente eu ia achar o amor da minha existência nem nada disso.

Depois de mais de meia hora no telefone, finalmente Daniel desligou e eu pude tomar um banho. Depois coloquei uma camisola e fui dormir.

Quando acordei no outro dia tomei banho e vesti meu uniforme. Sim uniforme, que coisa mais sem graça, não é?

O uniforme era estilo normalista, sabe? Saia de pregas vermelha e blusa social branca. Básico.

Calcei minha sapatilha preta peguei minha mochila lilás e sai do quarto olhando meu horário pra ver qual seria minha primeira aula.

Primeiro tempo:
Língua Alemã – prof. Fernando Soares

Segundo tempo:
Magia Elementar – profa. Catherine Spittle

Terceiro tempo:
Literatura – profa. Elissa Magroski

Quarto tempo:
Defesa Pessoal - prof. Mark Scabio

Almoço.

Quinto tempo:
Filosofia – prof. Andeas Sutter

Sexto tempo:
Língua Portuguesa – profa. Esme Louvain

Sétimo tempo: (opcional)
Dança – profa: Pietra Lesco
Poema – prof. Yevo Casting
Teatro – prof. Jeff Hunter

Oitavo tempo:
Hipismo – prof. Anthony Peterson

Arg! Isso ia ser complicado! Ah, um pequeno detalhe, eu não sabia aonde eram dadas as aulas. Fantástico!

Eu ia ter que procurar.

Suspirei.   

- Com o tempo você se acostuma.

Olhei para o lado e vi Isabel saindo do seu quarto. Nem tinha percebido que ela estava se aproximando.

Ela sorriu e saiu me arrastando.

- Vem, Mel. Vamos nos encontrar com os outros para irmos juntos para a aula. A propósito qual é a sua primeira aula?

- Alemão.

Ela parou.

- Alemão? – ela perguntou com o cenho franzido.

- Sim, por quê? – disse. Já estava ficando preocupada. O que havia de errado com alemão?

- Nada, é só que normalmente a gente faz inglês ou espanhol.

- Ah, eu já falo inglês e espanhol.

- Já? – pergunto Isabel com a expressão meio confusa.

- Já.

Ela deu de ombros e me arrastou pela academia até encontrarmos Bruno, Marcelo e Carol. Depois me levou para o anexo três onde ela disse que era minha primeira aula. Depois que me deixou na porta da sala foi embora com os outros.

Entrei na sala.

A sala era de tamanho proporcional ao numero de alunos. Que contando comigo eram vinte. As paredes eram de cor creme, as mesas e cadeiras eram da mesma madeira preta que a porta. Na verdade eu acho que tudo que é de madeira aqui é feito com a essa madeira preta, que, alias, eu não sei o nome.

Ah, uma sala inteira de completos desconhecidos e ainda por cima em uma aula de alemão.

Isso ia ser um desastre!

Sim, às vezes eu sou pessimista.

O professor entrou na sala saudando a turma. Ou pelo menos foi o que eu achei, já que eu não entendi absolutamente nada.

Eu afundei na minha cadeira no canto direito ao fundo da sala.

Suspirei.

- To ferrada. – murmurei baixinho levando as mãos ao rosto. 

- Você não deveria estar fazendo inglês ou espanhol? – perguntou uma voz masculina baixa.

Olhei para o lado e vi um cara de cabelos loiros e curtos, com olhos verde jade, pele branca, com as bochechas proeminentes e traços masculinos no rosto. Não dava pra saber se ele era alto ou baixo já que ele estava sentado, mas eu tinha a leve impressão de que ele não baixinho não. E estava vestido com o mesmo uniforme que eu. Mas, é claro, não usava saia e sim uma calça.

Ele era bonito. Certo, ele era lindo. E era um dos que estavam com aquele dampiro perfeito, no refeitório.

Ah, ele era um vampiro.

- Oh! No meu horário está alemão e eu já falo inglês e espanhol. – disse.

Ele me encarou por alguns segundo, me olhando dos pés a cabeça e disse sorrindo levemente:

- Eu sou Alex.

- Melany.

- Eu sei. – ele disse e seu sorriso aumentou.

- Ahãn?

Agora eu estava confusa. Como ele sabia o meu nome?

- Você está sendo esperada por toda a academia, Melany. Todo mundo aqui te conhece.

Agora eu já não estava mais confusa. Eu estava aterrorizada.

Pude sentir meus olhos se arregalando. Como assim eu estava sendo esperada? Como assim todo mundo me conhecia?

Meus olhos realmente devem ter se arregalado, pois Alex sufocou uma risada. O que fez o professor olhar pra nós com uma expressão carrancuda. Ele falou alguma coisa em alemão e Alex respondeu também em alemão.

Conclusão: não entendi nada.

Alex me olhou e disse:

- Você não gosta de saber que todo mundo te conhece? Você deve estar acostumada que todos a conheçam.

- Não gosto de saber que todo mundo me conhece e não estou acostumada que todos me conheçam. – disse com semicerrando os olhos.

Agora ele foi quem ficou confuso.

- Não gosta? – perguntou incrédulo.

- Não. – respondi.

- Todas as garotas gostam de saber que todos a conhecem. – ele disse isso como se fosse a coisa mais obvia do mundo.

- Eu não sou como todas as outras garotas. – disse. – E você não deveria generalizar.

- Todas as garotas que eu conheço são assim. – ele disse.

- Então você deveria conhecer outras garotas. - dizendo isso me virei para prestar atenção à aula.

Ele não disse mais nada, mas eu podia sentir o seu olhar sobre mim.

As aulas de Magia Elementar e Literatura passaram rápido.

Magia elementar foi... constrangedor.

Eu era a única que ainda não tinha se especializado, apesar de que ninguém na turma dominava seu elemento. Embora a professora Catherine me dissesse a cada cinco minutos pra não me preocupar e que eu ia me especializar eu estava desolada. Ah, fora o detalhe de ser uma turma de vampiros e dampiros mais novos do que eu.

Eu estava quase entrando em depressão quando saí da sala e fui para a aula de literatura. 

Ok, ok, talvez eu esteja exagerando um pouquinho na parte da depressão... Está bem, eu estava exagerando muito.

Literatura foi fácil. Mas o fato de Daniel já ter me dado aulas de literatura antes também pesava bastante. 
 
Saí da sala de literatura e fui para o vestiário me trocar para a aula de defesa pessoal.

Essa também ia ser difícil. Eu era um zero à esquerda quando se tratava de luta corpo a corpo.

Saí do vestiário e fui para o ginásio.

O ginásio era realmente grande. Com janelas altas, paredes brancas e muitos colchonetes azuis. Era dividido em uma área para de musculação e área de treinamento em grupo.

Olhei para os outros dezenove alunos na sala e percebi que aquele vampiro da aula de alemão, Alex, estava lá.

Isso ia ser vergonhoso.

O professor Mark nos mandou formar filas indianas, um atrás do outro sabe? E nos mandou executar alguns movimentos muito simples como ele disse. Depois de uns trinta minutos desses movimentos “muito simples” eu já estava ofegando.

Eu realmente era um desastre!

Não conseguia fazer nada direito, ao contrario dos outros que faziam movimentos perfeitos. E então eu percebi que essa era uma classe de alunos mais velhos.

Mark até que era legal. Isso antes dele dizer:

- Senhorita Lisli, você já tem idade suficiente para fazer essas atividades com uma qualidade muito maior. Vai precisar treinar muito pra consegui acompanhar a turma. É melhor você se esforçar mais.

Eu estava pronta para o mandar ir a merda e dizer que eu estava indo muito bem pra alguém que nunca fez isso antes, mas ele me cortou dizendo:

- Alguém, por favor, ajude-a?

- Eu a ajudo. – disse Alex.

Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar.

- Está bem. – disse Mark saindo.

Virei-me para Alex.

- Você...

- Vamos, vou te ajudar. – disse ele me interrompendo. 

Como não tinha nenhuma alternativa eu fui.

Eu acabei descobrindo que Alex era um cara super legal. E ele realmente me ajudou muito. Não era como se eu fosse ficar 100% em uma aula, mas eu já estava ‘menos pior’.

Quando acabou a aula eu fui pro vestiário trocar de roupa. Era hora do intervalo. 

Quando saí do vestiário Alex estava me esperando. Ele fez questão de levar minha mochila. Um cavalheiro!

Chegamos ao refeitório e eu estava rindo, mas rindo mesmo. Alex era muito engraçado. Fiquei pensando que seria super ter ele e Bruno no mesmo grupo. Mas acho que Alex só anda com o grupinho popular dele. O que era uma pena.

Enquanto estávamos andando pelo refeitório achei os meus amigos.

Então Alex disse:

- Bom, acho que agora cada um vai para o seu lado. Te vejo depois Mel. Tchau.

- Tchau.

Cheguei à mesa e Isabel me olhava com pura fúria no olhar.

Não entendi nada! O que foi que eu fiz?!

- O que aconteceu Bel?

- Você já esta se jogando pra cima do Alex também?

- O que?

- E isso aí mesmo que você ouviu. Ele estava até carregando a sua mochila.

- Bel, eu não estou dando em cima de ninguém.

- Ah, ta. Então por que você chegou junto com ele?

- Por que eu tive aula de defesa pessoal junto com ele e ele me ajudou.

- E porque você estava cheia de sorrisinhos pra ele?

- Não estava de sorrisinhos pra ele. Eu estava rindo por que ele é engraçado. Só isso.

Ela me olhou como se estivesse decidindo se estava mentido ou não. E então suspirou e disse:

- Desculpa. É que todo mundo sabe que eu gosto dele e mesmo não tendo nada com ele eu fico cheia de ciúmes quando alguma garota chega perto, ainda mais uma garota tão linda como você.

O clima ficou pesado, mas depois de uns instantes de silencio bruno fez uma piada e todos nós rimos...

Conversamos um pouco até que o sinal tocou.

Antes de todos irmos para as salas Carol disse:

- Mel, você já decidiu o que vai fazer no sétimo tempo?

- Faz teatro comigo? – disse Isabel.

- Desculpa amiga, mas não sou uma boa atriz. Eu vou fazer dança.

- Vamos. – disse Marcelo. – Senão vamos chegar atrasados.

- Tchau gente. – disse eu.   

- Tchau. – responderam.

As aulas de filosofia, língua portuguesa, dançam e hipismo voram.

Filosofia e língua portuguesa foram mega fáceis.

Dança também foi super fácil. A professora Pietra era magnífica.

Hipismo foi um pouco mais difícil, mas o professor Antony era um excelente professor.

Quando acabaram as aulas, eu estava cansada. Não fisicamente é claro, mas mentalmente eu estava um bagaço. Decidi ir para o quarto descansar um pouco.

Cheguei ao quarto tomei um banho, deitei na cama e apaguei.

Eu estava sonhando com ele. Aqueles olhos cor de mel, aquele sorriso maravilhoso, aquela pele morena, aquele corpo músculo que emanava poder e força vindo em minha direção com um andar sexy.

Ele estava exatamente como o vi pela primeira vez. E eu estava sorrindo bobamente pra ele.

De repente o sonho se transformou em pesadelo.

Aqueles olhos mel viraram dois olhos tão negros como à meia-noite. Aquele sorriso maravilhoso virou uma fileira de dentes grandes, afiados e absurdamente assustadores. Aquele corpo musculoso e que emanava poder e força virou um corpo peludo, com pelos marrons que emanava terror absoluto. E aquele andar sexy virou uma corrida agressiva.

Então eu o reconheci. Era o lobisomem que tinha me atacado no dia da minha transformação.

Eu acordei.

Minhas mãos suavam e meu corpo tremia. Mas esses eram “sintomas normais” para esse pesadelo. O que realmente me assustou foi a dor na minha cabeça.

Minha cabeça doía tanto que quando eu abri os olhos tive a nítida impressão de que o quarto estava mais baixo.

Fui apoiar as mãos na cama para levantar e encontrei... nada.

Que estranho!

Olhei para baixo.

Arfei, entrei em desespero e depois gritei, mas gritei mesmo. Gritei tanto que com o eco no quarto fechado o barulho era ensurdecedor.
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CAPITULO DOIS

domingo, 21 de novembro de 2010.
Eu estava dentro do carro com Daniel, no estacionamento da Academia São Francisco. Irônico não? O nome de uma academia para vampiros e dampiros com nome de um santo! Principalmente levando em consideração o fato de que os humanos nos acham criaturas malignas.

Eu passei o caminho inteiro, com o fone do meu Ipod no ouvido, maliciosamente tentando achar um jeito de convencer Daniel a me levar de volta pra casa com ele. Eu estava me preparando pra falar quando Daniel me olhou nos olhos, suspirou e disse:

- Senhorita Melany Lisli, não adianta você tenta me convencer a ti levar para casa, por que você sabe que não vai consegui. Nós já conversamos sobre isso milhares de vezes e você sabe que é o melhor pra você.

Virei o rosto pro outro lado. Droga! Como ele adivinhou? Eu sou tão transparente assim? Não, provavelmente é por que ele me conhece muito bem.

Aí eu vi varias pessoas se cumprimentando, se abraçando, dando risada... E então e percebi que eu era a ÚNICA aluna nova dessa academia. Entre pânico. Minhas mãos começaram a tremer, meu coração acelerou, meus olhos se arregalaram e minha boca se abriu. Eu tive que tentar lembrar-me de como me mexer. Eu virei pra olhar Daniel e quando ele ia falar eu o cortei.

- Daniel pelo amor de Deus, não me deixa aqui sozinha – eu disse com os olhos cheios de lagrimas. – Por favor. – eu sussurrei.

Ok, eu sei que eu sou um pouquinho dramática as vezes, mas fazer o quê?

Daniel olhou pra mim com choque e pesar nos olhos.

- Mel, você sabe o quanto dói pra mim te deixar aqui, como dói não poder ficar e cuidar e você. – ele disse. Sua voz não passava de um sussurro. – Mas é o melhor pra você, eu prometo que vou te ligar todos os dias. Você não vai ficar sozinha, você vai fazer amigos.

Eu olhei pra ele e vi a única pessoa em quem eu confiava, a única pessoa que eu conhecia de verdade, a única pessoa que eu sabia que me amava e sempre iria fazer o que fosse melhor pra mim. Então uma lagrima caiu na minha bochecha, e Daniel, que era como um pai para mim, assim como eu uma filha para ele, a enxugou. Ele sorri um sorriso triste e disse:

- Agora vai, Mel. Você é forte, você vai conseguir e eu sempre estarei aqui quando você precisar.

Eu respirei profundamente três vezes, olhei no espelho pra checar a maquiagem, peguei a bolsa e abri a porta do carro. Quando eu saí Daniel disse:

- Boa sorte, Mel, eu te amo!

- Também te amo, pai!

Eu sorri, fechei a porta e virei pra encarar o meu novo mundo.

Respirei profundamente mais uma vez e fui andando decidida e confiante.

Por onde eu passava as pessoas me olhavam. Mas isso não era só pelo simples fato de eu ser nova na Academia. Isso era também pela minha aparência, e eu sabia disso perfeitamente. Vampiros não são pálidos e podem pegar sol, porém vão ficando mais claros se não ingerem a quantidade de sangue ideal por dia. Mas eu por alguma razão desconhecida não sou assim, - não que eu conte isso para alguém – eu independente de ingerir sangue ou não continuo com o mesmo tom de pele. Isso é estranho eu sei. Além disso, eu tenho uma aparência bem diferente das outras pessoas – vampiros, dampiros ou humanos. Eu sou morena clara mais ou menos 1,68m de altura, cabelos levemente ondulados no meio das costas, cor preto-azulado, olhos verde-mar, corpo definido, curvas acentuadas e para ‘ajudar’ estava vestida de calça jeans justa preta, uma blusa sem mangas rosa bebê, sapatilhas pretas, cabelo amarrado num rabo-de-cavalo, uma maquiagem leve, brincos pequenos de prata e um colar também de prata com um pingente de diamante em forma de estrela.

Modéstia pouca é bobagem!

Eu sou linda!

O estacionamento ficava no lado esquerdo do prédio principal. Enquanto caminhava para o prédio principal, onde ficava a diretoria, fui observando as coisas.

A academia tinha uma arquitetura meio gótica, com picos elevados e abóbadas sustentadas por pilastras e colunas. Os muros eram excessivamente altos, com cerca elétrica, câmeras de segurança e, eu suspeitava que do lado de fora tivesse sensores de movimento. O caminho para o prédio principal era feito de pedras rústicas cercada por grama, dos dois lados havia jardins com flores brancas e vermelhas.

Cheguei à secretaria, cumprimentei a secretária e pedi pra falar com a diretora.

- Pode entra querida – disse Hellen à secretária. – Ela esta esperando você.

- Obrigada.

Daniel insistiu para que eu falasse com a diretora antes que fazer qualquer outra coisa. Pelo que ele me disse ela ia me fazer umas perguntas de entregar o meu horário.

Bati na porta e entrei. A sala era grande, paredes de cor gelo, um armário de madeira escura, uma mesa grande da mesma madeira no centro da sala com uma cadeira giratória atrás dela - que parecia muito confortável por sinal -, um lindo lustre no centro do teto, computador e uma pilha de papel em cima da mesa, porta-retratos e duas cadeiras em frete a mesa.

- Com licença.

- Senhorita Melany Lisli. Eu sou a diretora Carmem. Sente-se querida. – disse ela numa voz calma.

- Obrigada senhora Carmem.

Ela remexeu uns papeis e disse:

- Bom, senhorita Lisli, o senhor Lisli disse que você fala, francês, italiano, inglês e espanhol, certo?

- Sim.

- Disse que você estudou em uma escola humana, que ele mesmo a ensinou sobre biologia, geografia, artes, história, química, física, matemática, entre outras disciplinas, que você se formou recentemente num curso de paisagismo. E que você ainda não se especializou, certo?

- Sim, certo.

- Então vejamos... – disse virando para o computador e digitando algumas coisas. Depois de alguns minutos ela disse:

- Você já praticou algum exercício físico?

- Só dança. _Tecnicamente dança é um esporte. Não é?

Ela voltou pro computador e depois de mais alguns minutos imprimiu um papel e me deu.

- Senhorita Lisli, esse é o seu horário... – abriu a gaveta tirou mais um papel e me deu também. – Esse é o mapa da escola. A Senhora Hellen irá acompanhá-la até o dormitório.

- Obrigada, senhora Carmem. – disse estendendo a minha mão.

Ela pegou a as balançamos por alguns segundos, depois ela disse:

- É muito bom ter a senhorita aqui, espero que goste da Academia São Francisco. Qualquer coisa pode vir falar comigo eu estarei feliz em ajudar.

- Obrigado.

Quando eu ia saindo ela me chamou:

- Senhorita Lisli?

- Sim?

- Não se preocupe você ira se especializar em algum elemento.

- Obrigada.

Sorri um sorriso tímido e saí. Quando eu já tinha fechado a porta eu enfiei os papeis que ela me deu na bolsa sem nem me incomodar em olhar.

- Por aqui. Vamos? – disse a secretaria acenando com a mão.

Eu sorri e fui.

Nós saímos do prédio principal e fomos andando pelos jardins de trás, que eram tão lindos quanto os da frente todo floridos em branco e vermelho. Chegamos ao dormitório, subimos três lances de escada e paramos em frente a uma porta de madeira escura como todas as outras e na porta tinha o numero 356.

- Esse é o seu quarto, querida, o outro prédio é o dormitório masculino, visitas são permitidas até as dez e meia da noite e se você precisar de alguma coisa é só chamar a monitora Sandra. – ela disse me entregando a chave.

O que é que ela acha que eu vou fazer no dormitório masculino?

Será que ela não percebeu que eu não conheço ninguém aqui?

- Obrigada. – eu disse.

Ela sorriu e foi embora, enquanto eu encarava a porta do quarto.

Respirei fundo e abri a porta.

Entrei no quarto e fechei a porta. O quarto era maior do que eu imaginava.

Paredes em tom azul-claro, uma janela grande com uma cortina azul-escuro, um guarda-roupas grande de madeira preta, uma cama de casal - sim casal – feita com a mesma madeira do guarda roupa e com um edredon também azul-claro, no mínimo uns cinco travesseiros bem convidativos, um frigo-bar e um micro-ondas.

Não entendi nada!

Curiosa, fui ver o que tinha no frigo-bar.

Eu esperava tudo, menos bolsas de sangue, daquelas de hospital, sabe?

Pois é, então eu entendi o porquê do micro-ondas. Se tiver sangue no frigo-bar tinha que um lugar pra esquentar. Estranho, mas muito melhor do que caçar, com certeza.

No quarto havia também um banheiro de tamanho razoável, com um espelho quase do meu tamanho. Minhas coisas tinham sido mandadas pra cá antes de eu vir e estavam todas em caixas, só as roupas que estavam em malas que, aliais, eram muitas.

Daniel me fez comprar tudo novo, ele disse que eram “coisas novas para uma vida nova” e ele fez questão de ir comigo. Ele disse que era para ter certeza de que eu ia levar pelo menos um vestido. Apesar de não ser muito fã de vestidos, eu concordei. Ele sempre dizia que toda mulher devia ter pelo menos um vestido no guarda-roupa.

Mas nem nos meus pesadelos mais obscuros eu imaginei que ele ia me fazer comprar SEIS vestidos, focaliza na quantidade, SEIS. Porém eu também comprei um monte de lingerie, mas um monte mesmo.

Só pra vocês saberem eu amo lingerie, chega a ser um vício, quando eu fui fazer as malas uma foi só pra lingerie, e olha que a mala não era pequena não.

Olhei para o quarto, cheio de caixas e malas. Eu ia demorar uma eternidade para arrumar aquilo tudo.

Ah! Quer saber?

Eu arrumo isso depois, agora eu vou procurar o refeitório, por que eu to morrendo de fome, e não queria sangue, meu estomago está quase colando nas costas. Mas antes eu ia pelo menos toma um banho.

Tomei o banho e decidi que eu ia vestir a primeira coisa que eu pegasse na mala. E adivinha o que eu peguei?

Um vestido, tomara-que-caia, branco com flores vermelhas, um palmo acima do joelho. Eu tinha que admitir, o vestido era bonito e como eu não ia ficar caçando roupa no meio daquele mar de malas eu decidi vestir ele mesmo.

Fiz uma maquiagem leve, prendi o cabelo de novo num rabo-de-cavalo, calcei uma sandália baixa preta, coloquei o mesmo cordão e os mesmos brincos e fui à minha busca ao refeitório. Eu nem cogitei a ideia de levar o mapa, já penso eu ter que andar por aí com cara colada num mapa? Não, não mesmo.

Depois de quase vinte minutos andando, de um lado para o outro, eu achei o refeitório. Era como todo e qualquer outro refeitório. Grande e cheio de mesas.

Andei até a fila do Buffet, e peguei um prato raso com frango grelhado, arroz, salada de verduras e legumes e joguei um pouco azeite por cima, peguei um copo de suco de morango, os talheres e coloquei tudo na bandeja.

As mesas estavam praticamente todas ocupadas, mas eu consegui achar a mesa perfeita, pelo menos pra mim. Ela estava num canto no fundo do refeitório, onde dava pra ver tudo e todos, sem ser visto. Simplesmente perfeito! Andei até a mesa com a bandeja na mão, calmamente. Alguns me olharam outros não. Sentei à mesa e comecei a observar as pessoas.

Os meninos, que já não eram nada meninos, eram até bonitos. Eu nunca me preocupei com esse negocio e amor eterno e blá, blá, blá. Até por que o único homem que eu realmente conheci que teria possibilidade era Daniel. E Daniel era o meu pai, por assim dizer.

Ainda estava observando quando vi passa um grupo de garotos muito bonitos, aí no meio deles eu o vi, o cara mais incrivelmente lindo que eu já vi em toda minha existência. Essa magnitude de beleza devia ser proibida.

Ele era um dampiro. Com certeza o dampiro mais lindo de toda a academia, ele era alto, mas alto mesmo deveria ter 1,90m de altura, a pele dele era morena, os cabelos negros e curtos levemente bagunçado pelo vento, seu corpo emanava poder e força com todos aqueles músculos definidos, os olhos dele eram com duas tigelas de mel, em um rosto de traços retos e masculino e o sorriso, e que sorriso, era o sorriso mais lindo que eu já vi. Ele estava vestindo com uma calça jeans azul, com lavagem nas pernas, uma regata cinza e um tênis preto.

Eu estava tão distraída com aquela perfeição em forma de pessoa, que eu só percebi que tinha uma menina parada ao lado da minha mesa, quando ela falou comigo.

- Oi.

Olhei para o lado envergonhada, e vi uma menina que parecia ter uns vinte anos de idade, ela era de estatura mediana, corpo normal, nem magra nem gorda, cabelos ruivos, lisos demais pra ser chapinha, até os ombros, olhos castanhos e pele rosada, vestida com uma saia jeans no meio das coxas, uma blusa vermelha, tinha uma bandeja nas mãos e um amplo sorriso no rosto em seu rosto delicado.

- Oi. – sorri timidamente.

- Posso sentar aqui com você?

- Claro.

- Eu sou Isabel.

- Melany.

Ela colocou a bandeja em cima da mesa e estendeu a mão eu a peguei e as balançamos por alguns segundos e nos sentamos.

- Você é a aluna nova que vai ficar no quarto 356 não é?

- Sim.

- O meu é o 357. Nunca entrei no quarto 356. É um dos maiores da academia e...

Ela não terminou de falar, por que um cara, vampiro, baixo, mas não muito, magro, com pele morena, olho preto, muito sorridente, vestido com uma calça preta larga e uma camisa verde com um desenho de um cara surfando, estava gritando o seu nome no meio do refeitório. Todo mundo olhou para a nossa mesa quando ela acenou e gritou de volta:

- Hei, estou aqui. – ela virou pra mim. – Você se importa se os meus amigos sentarem conosco?

- Não. – disse sorrindo. Ela sorriu de volta, mostrando as presas. Mega estranho.

Ah, qual é? Eu vivi no meio de humanos a minha vida inteira. Sempre sorri sem mostra as presas. Eu precisava de um tempo para me acostumar com isso.

Então eles chegaram a nossa mesa. O cara sorridente, uma vampira de estatura mediana, pele branca, olhos em um tom chocolate, cabelos castanho-médio enrolado um pouco abaixo dos ombros, vestida num vestido, sem mangas um palmo acima dos joelhos, lilás com um bordado de flores brancas no lado direito e abaixo do quadril. E o outro era um dampiro alto, mas não muito mais ou menos 1,80m de altura, pele branca, olhos verdes esmeralda, cabelos loiros e curtos, vestido com uma bermuda de tactel vermelha e uma camisa branca.

- Hei, Bel. – disse o sorridente e olhou pra mim. - Amiga nova?

Ela sorriu e disse:

- Galera, essa é a minha mais nova amiga Melany. Melany esses são Bruno, - o sorridente. – Caroline e Marcelo.

- Oi. – disseram juntos.

- Oi.

Ficamos conversando um bom tempo, até que Caroline perguntou:

- Melany qual seu horário.

- Não sei, a diretora me deu, mas nem abri o papel.

- Qual é o seu elemento? – disse Bruno.

- Não sei ainda. – respondi com um semblante triste. – Não me especializei.

O silencio caiu.

Então do nada Bruno disse sorridente:

- Hei, não fica assim Mel. Você vai se especializar.

- É mesmo Mel. Não fica assim. – disse Isabel.

- É mais eu já tenho 55 anos. – rebati.

- Eu me especializei em água com 62 anos, Mel. – disse Carol.

- E eu em ar com 67. – disse Marcelo.

Bruno começou a contar piada e todo mundo começou a ri e continuamos conversando.

Depois de uns vinte minutos eu suspirei e disse:

- Bom pessoal, a conversa está boa, mas agora eu tenho que ir.

- Já Mel? Ta cedo! – disse Marcelo.

- É mesmo Mel. Fica só mais um pouquinho? – disse Isabel fazendo biquinho.

- É mais eu não posso mais adiar isso. Eu tenho que arrumar o meu quarto. Ta uma bagunça! Tem caixas e malas espalhadas para tudo quanto é lado!

- Ah, então a gente podia te agudar. – disse Carol.

- Mentira! Jura?

- Claro. – disse Isabel.

- Eu to dentro. – disse Marcelo.

- Eu também. – disse Bruno.

- Muito obrigada, gente. Agora vamos, por que o negocio lá está feio.
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Capitulo Um

sexta-feira, 1 de outubro de 2010.
CAPITULO UM

       Eu estava de biquíni sentada na minha canga, na areia de frente pro mar. O mar estava lindo, o verde se juntando com o azul do céu... Meus pensamentos  estavam longe... Em um lugar muito diferente há anos atrás.
As lembranças da minha transformação não são muito claras.

Eu tinha ido com um grupo de dez amigos fazer trilha. A floresta era linda. Com árvores enormes e centenárias de um verde esmeralda, e o dia era ensolarado; o que não acontecia com muita frequência por lá . Mas apesar de ser um dia ensolarado, a floresta era tão densa que poucos raios de sol chegavam ao chão.
Nós já estávamos no meio da floresta quando resolvemos parar para descansar e comer um pouco.
Foi então que eu vi, lobos, uma matilha de uns sete lobos enormes, mas enormes mesmo, com uma fileira de dentes grande, brancos, provavelmente muito afiados e extremamente assustadores.
Nós entramos em pânico, todo mundo começou a corre; o que não adiantou muita coisa. A ultima coisa que eu vi foi um daqueles monstros enormes, de pêlos marrons, vindo em minha direção em uma corrida agressiva.
Eu não sei o que aconteceu depois nem quanto tempo eu fiquei desacordada. Acordei sentido alguém tocando levemente o meu ombro.
Uma voz masculina calma e melódica sussurrou algo que não eu consegui entender.
Eu forcei as minhas pálpebras a se abrirem, meu corpo estava fraco e  dolorido, respirava com dificuldade e me sentia muito cansada.
Quando eu finalmente consegui abrir os olhos vi um homem de pele clara, olhos cor de uísque em um rosto com traços retos, bochechas proeminentes, cabelos negros lisos e curtos.
- Não me deixe morrer... – minha voz falhou e minhas pálpebras se fecharam novamente, eu queria pedir, implorar, suplicar que não deixasse morrer, mas minha voz não saía.
- Não vou deixar - disse ele.
E então eu fiquei inconsciente novamente.

Quando eu acordei minha garganta estava seca, eu tinha sede, muita sede. Escutei o leve som de paginas sendo viradas, água caindo e de alguém respirando calmamente, entre outros sons. Senti cheiro de terra molhada, pinheiros verdes, como os da floresta, e mais inúmeros outros cheiros desconhecidos pra mim. Meu corpo estava forte, não estava mais dolorido nem machucado e respirava sem esforço.
O que estava acontecendo comigo?
Eu estava sentido cheiros e ouvindo coisas de um jeito que nunca aconteceu.
Meu corpo estava forte como nunca estevera.
Bom, hora de descobri o que me aconteceu. Abri meus olhos, eu estava em um quarto grande com paredes verde-claro e moveis bege, deitada em uma cama grande e macia, coberta com uma manta de cor branca. Olhei para o lado e vi o mesmo homem que eu tinha visto na floresta, sentado em uma cadeira ao lado da cama, com um livro nas mãos. Na parede ao lado dele havia uma janela aberta onde eu vi as árvores, e a chuva caindo, o que explicava os cheiros e os sons.
Quando ele olhou pra mim seus lábios se abriam em um grande sorriso, sem mostrar os dentes, então ele disse, com a mesma voz calma e melódica que  me lembrava:
- Que bom que você acordou.
- Você não me deixou morrer. – disse surpreendida e sorri.
- Eu disse que não deixaria – respondeu ele. – A propósito, eu sou Daniel.
- Melany. – disse.
- Bom, Melany, nós precisamos conversar.
     Então Daniel me disse o que ele era e no que eu me transformei. No inicio foi difícil de acreditar, mas quando ele falou da força, da visão, audição, olfato, das presas e principalmente da sede de sangue.
Rapidamente me convenci.
Ele também me explicou que o que nos atacou na floresta não eram bem lobos, e sim lobisomens. O que explicava eles serem tão assustadores e tão absurdamente grandes.

Desde então eu vivo com Daniel. Nós nos mudávamos muito obviamente. Já moramos em vários lugares que pensei jamais conhecer. Atualmente estamos  em Cabo Frio, Rio de Janeiro, mas este é o meu ultimo dia aqui com ele, pois amanhã estarei indo para a Academia São Francisco, que fica numa cidadezinha no interior de Minas Gerais.
Eu não estou satisfeita com essa situação, porém Daniel disse que eu deveria ter ido assim que me transformei, mas como eu tenho uma personalidade forte e um gênio levemente difícil - bom, está mais pra bem difícil, mas não importa - eu bati o pé todos esses anos, só que agora não tem jeito eu tenho que ir. Então aproveitarei ao máximo esse dia.
Praia.
Eu amo esse lugar... ah, e sim, nós podemos fiar no sol.
Quando somos transformados todos os nossos sentidos - audição, olfato, visão, paladar e tato - força aumentam em 80%, depois de alguns séculos chegam a 95%. Nossos cabelos e unhas crescem normalmente, porém perdemos todos os pêlos exceto as sobrancelhas. Não precisamos respirar nem dormir, só fazemos por habito. Nosso coração bate como o de um humano adulto normal, entretanto nossa temperatura é mais baixa em torno de 30°C. Bebemos sangue, é obvio, e comemos comida humana uma vez ao dia. Não somos pálidos e nem temos olhos vermelhos. Somos em geral bonitos e atraentes para nossas presas. Temos presas.
Quanta coisa, não?
Daniel falou que todos os vampiros se especializam em um tipo de magia que vem dos elementos, terra, água, fogo e ar. Alguns têm dons especiais além da magia elementar, o que me deixou frustrada, pois eu ainda não especializei em nenhum elemento e nem descobri nenhum outro dom. Ele disse que é por que eu ainda sou muito nova e que eu tenho que esperar mais um pouco.
Mas, hei, eu tenho 55 anos como vampira, não sou tão nova assim!
Bem, mas se você for comparar com Daniel, eu estaria usando fraudas ainda. Pelo que eu sei Daniel tem quase mil anos. Esta bom, eu sou um pouquinho nova ainda.
Vampiras não podem ter filhos, porém por uma dessas esquisitices genéticas vampiros podem ter filhos com mulheres humanas e dampiras.
Dampiros são híbridos nascidos de vampiros e humanas, entretanto, essa gestação é de grande risco para as mulheres humanas, pois dampiros são muito fortes e tendem a quebrar os ossos de suas mães.
Dampiros pode se reproduzir entre si. Seus sentidos e força são 90% maior que os humanos e depois de alguns séculos chegam a 100%. Sua temperatura é como a de um humano adulto normal, assim como o batimento cardíaco. Não necessitam de sangue como os vampiros, eles preferem comida humana. E dampiros podem escolher quando parar de envelhecer, não me pergunte com, mas eles conseguem essa proeza. Acho que eles falam: ‘Hei corpo pare de envelhecer!’.
Foi sem graça, eu sei.
Apesar de existir uma boa quantidade deles, dampiros são mais raros que vampiros. Ele também se especializam em mágica elementar.
Nas academias vampiros e dampiros têm aulas juntos, tanto de magia quanto das outras coisas.
Tudo que eu sei sobre dampiros eu aprendi com o Daniel. Claro eu já vi alguns dampiros, só que a muito tempo atrás.
Eu sempre vivi com Daniel no meio de humanos, não sei como é viver num lugar cheio de vampiros e dampiros. O lado bom é que você não precisa controlar sua força, seus reflexos e nem fingi que não vê e ouvi coisas que pessoas normais não veriam e nem ouviriam.
Eu estou indo para academia, basicamente para aprender a me defender, e me especializar em algum elemento, já que como eu disse ainda não me especializei, porém temos aulas normais também.
Vampiros e dampiros, têm que ir para essas academias para aprender a se defender, por que somos muitos mais fortes que os humanos e não é saudável para eles que façamos esse tipo de aulas com eles.
Daniel me deu aulas durante alguns anos de línguas, geografia, biologia, matemática, Literatura, história ... que ironia pessoas “experientes” como os vampiros e dampiros estudar história.
E eu também já estudei em escolas humanas, foi meio chato. Humanos aprendem muito devagar, quase parando na realidade. Eu tinha que fingi que não sabia mais que os meus professores e deixá-los acharem que estavam me ensinando alguma coisa. E eu recentemente me formei num curso de Paisagismo. E não foi difícil, pois não envolvia atividades físicas. Por que, cá pra nós, fazer atividades físicas em velocidade humana é excessivamente tedioso. Fingi que corre na velocidade deles, fingir ter a força igual à deles.
Muito devagar!
Não dá para mim.

Senti-a se aproximar antes mesmo dela me ver. Deixe-a se aproximar sem olhar em sua direção.
- Hei, Mel!
Olhei para o lado e a vi. Luiza parecia mais uma alemã do que uma brasileira, era alta, com a pele branca e um leve rosado nas maçãs do rosto, magra, mas não como essas super modelos e sim com uma mulher normal, tinha cabelos loiros cheios de cachos naturais e os olhos mais azuis que eu já vi. Ela era linda...
E a única amiga que eu já tive. Em todos esses anos eu nunca deixei ninguém chegar tão perto de mim pra me conhecer. Ela é humana e obviamente não sabe que eu sou uma vampira, mas Luiza é fascinada por vampiros, ela ama livros, filme, seriados... tudo sobre vampiro.
- Hei, Lu! – voltei a olhar o mar.
- E aí, como é que você esta?
- Bem. – suspirei.
- Mel?
- Oi? – olhei pra ela.
- Você tem que ir mesmo? – ela perguntou com uma expressão triste.
- Ah, Lu! Não fica assim.
- Você é a única amiga que eu tenho, Mel. Como eu vou viver sem você? – disse fazendo beicinho.
Eu tive que ri. Apesar de Luiza ser muito simpática, inteligente e linda era também excessivamente tímida, e ela não tinha amigos.
- Você também é a única amiga que eu tenho Lu. Mas eu tenho que ir. Eu não queria, mas meu pai está insistindo muito.
- Ele não é dono da sua vida, Mel. – ela disse com uma voz dura.
Eu estava mega triste de ir embora e por não poder falar pra ela a verdade.
- Não fale assim dele Lu. Ele tem os seus motivos, ele é meu pai e esta fazendo o que ele acha que é melhor pra mim. – eu disse a ela.
Apesar de eu não concordar, pensei.
- Eu vou sentir tanto a sua falta!
- Eu também, Lu! Mas, hei, a gente pode conversar por e-mail, telefone, carta, sinal de fumaça, sei lá.
Ela riu.
– Só você Mel para me fazer rir.
- Mas é verdade. – eu disse e ri.
- Eu sei, eu sei.
Nós ficamos a praia conversando e rindo a tarde inteira.
Quando fomos embora ela disse:
- Mel, você promete que não vai esquecer de mim?
- Claro que não Lu. – disse e sorrir. Você é quem vai esquecer de mim, pensei.
- Tchau, Mel. – ela disse me abraçando forte.
- Tchau, Lu.
Cheguei em casa e Daniel estava na biblioteca, sentado em sua poltrona de couro negro.
A biblioteca era grande, mas grande mesmo, com paredes de cor pêssego, luzes fluorescentes, duas poltronas de couro negro, duas mesas de ipê, prateleiras e mais prateleiras, também feitas de ipê, ocupadas com de milhares de livros. Eu tenho uma forte suspeita de que Daniel tem mais livros do que a Biblioteca Nacional. Ok, exagerei!
Subi para o meu quarto, joguei a minha bolsa na cama e fui toma uma ducha. Vinte minutos depois, Daniel bateu na porta.
- Mel, posso entra?
- Calma aí, estou me vestindo.
Coloquei um short, uma regata.
- Entra. – disse sentando na cama.
Daniel entrou, olhou pra mim por uns 10 segundos, suspirou e disse: -  O que aconteceu, Melany?
- Nada. – menti descaradamente, eu ainda estava triste por ter que ir embora e deixar a Luiza sozinha, e ele sabia o que se passava por minha cabeça.
- Mel, você sabe que tem que ir.
- Eu sei, mas eu não queria deixar a única amiga que eu já tive, Daniel. A única com quem eu fui eu mesma, ou pelo menos o mais próximo disso.
- Mel, Mel! Você ainda tem tanto o que viver, você vai fazer outros amigos na academia. – ele disse isso mais pra ele do que pra mim. Eu sabia que ele se sentia culpado por eu não ter amigos vampiros e dampiros, se culpava por eu ser tão sozinha, por eu ser tão “anti-social” como ele dizia. E eu sempre dizia que não era culpa dele e que estava muito satisfeita em viver só com ele.
- Pai, está tudo bem, eu sei que tenho que ir. – eu disse carinhosamente. – Porém não quer dizer que eu goste da ideia!
- Você vai ser feliz lá, filha. – disse Daniel me abraçando.
- Assim espero. - eu disse.
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