Capitulo Onze

domingo, 28 de agosto de 2011.

Na sexta acordei cedo e arrumei-me calmamente.

Cheguei à sala de aula e Sr. Soares ainda não estava na sala. Sentei em minha carteira de costume e perdi-me em pensamentos.

- Bom dia classe! – disse Sr. Soares em português – o que era extremamente raro -, entrando na sala e fechando a porta.

Todos sentaram em seus lugares.

A aula como sempre foi tranquila. O Sr. Soares era um vampiro simpático, nos tratando com um jeito até fraterno – isso quando ele estava de bom humor. Era bonito como todo vampiro, seus olhos eram azul-claros, sua pele branca, seu rosto tinha traços fortes com bochechas altas, nariz reto e queixo largo, curtos cabelos loiro-claros e era alto, com magros músculos discretos.

Enquanto o Sr. Soares falava alguma coisa sobre a utilização dos verbos na língua alemã, eu dei uma olhada na sala.

Os alunos estavam até que prestando atenção; Alex parecia entediado, Marco parecia lindo como sempre e me presenteou com um sorriso quando seus olhos encontrar os meus e Diogo... onde estava o Diogo? Ele não sentava ao lado de Marco? Olhei melhor a sala e encontrei Diogo sentado a umas três fileiras ao lado e cinco cadeiras atrás de Marco e... Ele me encarava intensamente. Desvie o olhar. Me chame de rancorosa, mas eu ainda não tinha esquecido a brincadeirinha ridícula que ele tinha feito.

Minha mente estava longe mais precisamente nas visões que eu tive. A aula passou que eu nem vi e fui para a aula de magia elementar ainda pensando nisso e continuei enquanto a aula seguia.

- Melany? – disse Catherine. – Aconteceu alguma coisa, querida? – perguntou ela gentilmente.

- Oh, não! – eu disse sem graça.

- Você ficou pensativa a alua inteira. Pensei que tivesse acontecido algo.

– Não aconteceu nada. Hoje estou um pouco distraída mesmo. Desculpe.

Ela sorriu e assenti. Virou-se para o resto da turma e disse:

- Dispensados.

Saí rapidamente da sala e fui direto para a aula de literatura. Agora eu estava pensando em Marco e Diogo... então eu lembrei...

- Melany.

- Deixe-a ir, Diogo.

- Não me diga o que eu tenho ou não que fazer, Marco.

Oh, Deus! Será que eles brigaram por minha causa? – pensei. Ah, claro que não! Era muita pretensão minha pensar isso.

Entrei na sala e novamente Diogo sentou-se longe de Marco.

A Sra. Elissa Magroski, entrou na sala pedindo silencio aos que estava conversando.

- Bom dia, turma! Hoje nós faremos um trabalho sobre a matéria da aula passada, valendo nota. – disse Elissa. – Será em dupla, mas para não haver confusão eu escolherei as duplas, ok?

Alguns protestaram por ela escolhe as duplas outros ficaram até felizes, e eu? Bem, eu esperava fazer com alguém que eu conhecesse. Resumindo: Alex, Marco ou Diogo. Nem tanto com o Diogo, eu ainda estava brava com ele.

- Bem, eu direi os nomes e um da dupla vem aqui pegar as folhas que eu vou dar, depois das duplas formadas eu explicarei como fazer. Vamos lá... – Elissa foi formando as duplas.

Só faltavam quatro e ela não tinha falado meu nome ainda, entre essas pessoas estavam Diogo e Marco.

- Diogo e... Rômulo e Marco e Melany.

Ufa!

Marco foi até a professora, pegou os papeis e veio em minha direção. Posicionou a mesa ao lado mais perto da minha e sentou-se ao meu lado com um sorriso genuíno. Olhei brevemente para Diogo e ele nos encarava com frustração.

- Agora que já formamos as duplas prestem atenção! Vocês receberam uma folha com um texto falando sobre o Arcadismo e uma folha com perguntas sobre a toda a matéria. Eu quero que vocês leiam o texto e a matéria de ontem e respondam com suas palavras. Se existirem respostas iguais as duplas perderam ponto, mesmo se as respostas estiverem certas. Podem começar.

- Hei. – eu disse. Idiota eu sei, mas eu não sabia o que dizer, poxa!

- Hei, está tudo bem?

- Sim, tudo bem, por quê?

- Quando você saiu do ginásio ontem você parecia... ahã...

- Com raiva?

- É, sim com raiva.

- Bem, eu estava.

- Posso saber o porquê?

- Bem, é que o Diogo tem a irritante mania de chegar atrasado. E ontem eu falei com ele que quando ele precisasse chegar atrasado era para ele me avisar, assim eu não ficava esperando ele.

- E era por isso que você estava com raiva? – ele me perguntou cético.

- Sim... quer dizer não... ahrg! É que eu acho que ele não recebe muito bem as criticas. Ele disse que não custava nada esperar um pouco... – ele me olhou como se concordasse com Diogo. – ok, eu sei que não custa nada esperar um pouquinho de vez enquanto, mas todo dia?! E ele ainda fez uma piadinha ridícula perguntando se eu estava de TPM, pode?

Eu estava indignada!

Marco balançou a cabeça em exasperação e sorriu dizendo:

- Diogo é assim mesmo. Não fica com raiva dele!

- Tarde demais. – eu resmunguei.

- Nunca é tarde de mais, Melany. – ele disse seriamente.

- Ok, vamos fazer o trabalho. – eu disse.

- Você está desconversando! – ele acusou.

- Não diga! – eu disse ironicamente. – Olha só, eu não gosto que me façam de idiota, ok? Não gostei da atitude do Diogo e eu tenho todo o direito de não gostar. É melhor ficarmos longe por um tempo. Eu não sou de guardar rancor, mas eu demoro um pouco para perdoar. Eu sou assim.

- Tudo bem, eu não estou aqui para te julgar. Eu só queria te entender. – ele disse serenamente. Sorriu. – Aí, posso te fazer uma pergunta?

- Já fez, mas pode fazer outra. – eu disse sorrindo também. Já disse que é impossível não corresponder o sorriso dele? Pois é, é muito difícil.

Ele sorriu novamente.

- Onde você morava antes de vir para a Academia?

- Em Cabo Frio no Rio de Janeiro.

- Do que você sente mais falta?

- Alem, de Daniel e Luiza o que eu sinto mais falta é do mar e das festas, é claro.

- Festas?

- Claro! Eu ia a festas todos os dias. Afinal uma vampira tem que se alimentar. E nada melhor do que festas... hum... sangue direto da fonte... irresistível.

Ele colocou as mãos no pescoço e me olhou assustado.

Eu o encarei.

Ele sorriu.

- Isso não foi engraçado.

- Por que você sente falta do mar? – ele disse.

- Não sei bem, o mar me acalma, sabe? Nadar me acalma. Ver as ondas banhar a areia, senti-la em minha pele... Isso me da paz, me faz sentir segura. É meio bobo eu sei, mas é assim que eu me sinto.

- Não é bobo. – ele disse. – Eu também gosto do mar... quando eu morei no Havaí há uns anos atrás eu ficava horas na praia. O mar e o surf são algumas das coisas que eu mais sinto falta quando eu estou na Academia.

- Você surfa? – eu perguntei incrédula.           

- Surfo. – ele disse com um meio sorriso.

- Eu sempre quis aprender, mas nunca achei alguém para me ensinar. Claro, tem humanos que ensinam, mas é tão chato aprender com humanos. – eu disse desanimada.

- Eu te ensino. – ele disse.

- Ah, aqui não tem praia, esqueceu?

- Nós podemos ir para algum lugar que tenha.

- Jura? – ele assentiu. – Que ótimo! – exclamei.

Fiquei me imaginando em uma prancha surfando naquela imensidão verde azul. Olhei para Marco e o vi encarando-me, como se nunca mais fosse me ver. Ele me olhava tão intensamente que senti a necessidade de desviar o olhar em sinal de vergonha, mas não consegui. Perdi-me aquele mar de cor mel.

- Antes de eu virar vampira eu tinha medo do mar por quase me afogar nele. – eu disse sem motivo algum.

Ele riu, riu alto. Todos nos encararam.

- O que é tão engraçado, Marco? – perguntou Elissa rispidamente.

- Oh, nada Sra. Magroski. Desculpe. – disse Marco com a expressão seria, mas havia um sorriso brincando nos cantos de seus lábios.

- Voltem ao trabalho. – ela disse simplesmente.

- Jura que você tinha medo do mar?! – ele disse divertido.

- Tinha. – eu disse envergonhada. Ele riu ainda mais. – Isso não é engraçado. Eu era uma criança que nunca tinha visto o mar, eu queria nadar nele, e foi o que eu fiz. Ou pelo menos eu tentei, já que eu não sabia nadar. Eu levei um “caldo” tão grande que era para ter me perdido no mar e nunca mais ter sido encontrada.

- Desculpe. – ele disse. – Mas é que é engraçado.

- Uma criança se afogar e quase morrer é engraçado?! – eu perguntei.

- Er... Bem, não, mas o jeito que você contou fez parecer engraçado. – ele disse desconcertado.

- Tudo bem eu entendi, mas não foi engraçado. – eu disse tentando soar séria, mas não consegui. Marco me olhava apertando os lábios para não rir. – Pode rir Marco eu sei que você quer. – eu disse rindo.

Ele também riu.

- Ok, já que você confessou que tinha medo do mar eu também vou confessar uma coisa... – eu fiquei olhando-o em expectativa. – Eu...

- Você? – eu perguntei ansiosa.

- Eu... eu matei um gato. – ele disse rindo.

Eu o olhei cética. – Você matou um gato?! – ele assentiu. – E eu aqui pensando que era alguma coisa.

- Hei, é alguma coisa! – ele disse ainda rindo. – Mas agora é serio vou confessar uma coisa. – eu o olhei sem acreditar. – Hei, me dá um pouco de credito! É uma coisa realmente seria.

- Vá em frente. – eu disse curtamente.

- Eu tenho um meio-irmão. – ele disse sério, nenhum traço do seu lindo sorriso nos seus lindos lábios. – Mas isso é um segredo, Melany, ninguém sabe disso.

- Por que é um segredo?

- Nós preferimos assim. Meu pai o transformou...

- Dá um pause aí, transformou? Ele não é um dampiro?

- Não, ele é vampiro. Eu só descobri que tinha um meio-irmão a pouco mais de trinta anos.

- Por que seu pai não disse que você tinha um meio-irmão?

- Não sei, meu pai se tornou muito ausente depois que minha mãe morreu. Mas apesar de ser ausente eu o amava e sofri muito quando ele foi assassinado e ainda sofro... – disse Marco, em sua voz eu podia notar a dor a que ele estava se referindo, ele sofria.

- Seu pai foi assassinado? – eu não pude me impedir de perguntar.

- Ele foi decapitado há uns cinquenta anos. Ninguém sabe por que e nem por quem. Eu me sinto culpado, embora não estivesse lá, por que se eu estivesse poderia ter feito algo para impedir quem quer que o assassinou.

- Eu sinto muito. – eu disse sinceramente.

Ficamos um minuto em silencio, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

- Você e seu irmão se falam?

- Sim, nós somos até bem íntimos.

- E onde ele está?

- Aqui na academia.

- Você pode me dizer quem é?

- Melhor não, prefiro que ele o faça.

- Tudo bem.

Nós ficamos em silencio mais uma vez e então em uma necessidade que eu não sei de onde vinha comecei a contá-lo o que nunca tinha contado a ninguém alem de Daniel.

- Sabe? Eu nunca conheci os meus pais... ninguém sabe o que aconteceu com eles... quando eu fui encontrada sozinha no meio da estrada me levaram para um orfanato e lá eu fiquei até os meu sete anos. Eu ainda me lembro de como era... – Marco me olhava intensamente com um olhar interessado.

– O jardim que cercava o orfanato era enorme, a grama verde... as flores coloridas... lá haviam muitas flores diferentes, tulipas, margaridas, orquídeas, rosas, todas as flores de todas as cores, era lindo! Na primavera quando os botões se abriam era mágico... eu ficava horas as admirando...

A sala inteira sumiu, nesse momento só existiam eu, Marco e minhas lembranças.

- No outono quando as muitas árvores perdiam suas folhas e o chão ficava repleto delas, como um tapete marrom... no inverno eu gostava de ficar sentada na minha cama, que ficava de frente para a janela, observando o começo da floresta que ficava ao norte do orfanato... eu gostava de imaginar que havia alguém ali que se importava comigo, que eu não estava sozinha, que em algum lugar alguém sentia a minha falta...

Funguei e senti que as lagrimas estavam prestes a sair.

- Eu queria tanto acreditar nisso que as vezes eu podia jurar que via grandes sobras andando por aquela parte da floresta... e não sei porque mas eu me sentia segura com isso... - eu me deixar pelas lembranças.

Estava tão absorvida por minhas lembranças que só me dei conta de que sussurrava muito baixo quando percebi o rosto de Marco a poucos centímetros do meu.

- Desculpe. – eu disse envergonhada. – Eu me deixei levar...

- Não tem problema, eu gosto de te ouvir falar e agradeço por confiar em mim. – ele disse ainda me olhando intensamente, ainda muito perto.

- Vocês já acabaram? – perguntou Elissa.                                           

- Ahãm? – eu perguntei desviando o olhar do de Marco.

- Não Sra. Magroski, peço que nos deixe entregar na segunda. – disse Marco olhando nos olhos de Elissa.

Elissa o olhou por um instante e disse rispidamente:

- Ok, Marco! Mas não deixe de entregar na segunda.

- Tudo bem, Sra. Magroski, entregarei na segunda. – Elissa foi embora e Marco virou-se para mim. – Podemos continuar amanhã, Melany?

- Podemos, que horas?

- Às nove da manha está bem, para você?

- Sim, está. Onde?

- Na biblioteca.

- Eu... er... não sei onde fica a biblioteca.

- Eu posso passar no seu dormitório para irmos juntos. O que você acha.

- Eu acho ótimo. – eu disse entusiasmada demais. Ele sorriu.

- Até a próxima aula então, tchau. – ele disse se levantando.

- Tchau. – eu disse.

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