Acordei na segunda mega atrasada.
Tomei banho em tempo recorde. Vesti meu uniforme e enquanto eu literalmente corria para minha primeira aula, prendia os cabelos em um rabo-de-cavalo. Minha maquiagem consistia em um gloss. Mas, é claro, que eu levei um lápis de olho preto e um blush para colocar enquanto o professor estivesse de costas. Depois de todos esses anos me maquiando eu já conseguia fazer isso em segundos se precisasse.
Cheguei a porta da sala, respirei fundo, e bati gentilmente.
- Zwischen. – disse o professor Fernando. O Sr. Soares era professor de língua alemã e fazia questão de só falar em alemão.
Depois de uma semana eu já tinha aprendido o suficiente para saber que ele tinha dito para mim entrar.
- Entschuldigung für Verspätung. – eu disse timidamente me desculpando pelo atraso.
Fernando olhou-me surpreso. Pelo visto ele não achou que eu fosse capaz de dizer uma frase inteira em alemão. Claro, nem eu sabia, já que eu não prestava nenhuma atenção em sua aula.
Ponto pra mim!
Depois de seu momento de confusão ele voltou a aula e eu fui rapidamente para o meu lugar no fundo da sala. Nem preciso dizer que estava todo mundo me olhando, não é?!
Abri minha mochila, tirei meu livro e meu estojo e coloquei tudo na mesa.
Alex, sentado ao meu lado, deu-me um olhar questionador erguendo uma sobrancelha loira que não era nem de longe tão perfeita quanto a de Marco.
Dei de ombros e enquanto o professor ficava de costas passei o lápis de olho e blush o mais rápido possível. Uma dampira e uma vampira - que estavam a duas fileiras de distancia de mim - me olharam com espanto com o quão rápido fui capaz de me maquiar.
Marco e Diogo, assim como Alex, me lançaram olhares e sorrisos divertidos.
Sorri e voltei minha atenção para o Sr. Soares.
Assim que a aula acabou fui para a de Magia Elementar e a professora já estava na sala.
- Bom dia Sra. Spittle. – eu disse.
- Pode me chamar de Catherine, Srta. Lisli. – ela disse sorrindo.
- Só se a senhora me chamar de Malany. – eu disse sorrindo também.
- Tudo bem, Melany, bom dia.
- Bom dia, de novo, Sra. Catherine. – sorri e fui para o meu lugar.
Catherine era uma boa professora, ela deveria ter uns cento e poucos anos, mas tinha aparência de pouco mais de vinte e cinco. E como toda vampira ela era linda. Morena jambo, altura mediana, corpo na medida – nem gorda, nem magra -, curvas delicadas, olhos castanhos escuros e cabelos também castanhos escuros encaracolados na altura dos ombros. Hoje seus cabelos estavam presos em um rabo-de-cavalo alto, deixando seu rosto de traços retos perfeitamente a mostra.
A aula passou rápido. As aulas de magia elementar sempre passam assim. E eu sempre permaneço na mesma, sem muitos progressos.
Saí da aula, como sempre, frustrada.
Enquanto eu me martirizava mentalmente fui andando para minha próxima aula. Literatura.
A Sra. Magroski era uma vampira, baixinha, pele branca, com bochechas rosadas, cabelos cacheados castanho-dourados e grandes olhos verdes, profundos, sonhadores, acolhedores.
Nós hoje começaríamos a estudar o Arcadismo.
- O Arcadismo representa, na literatura, uma reação contra os excessos do Barroco, seu estilo rebuscado, pleno de antíteses e frases tortuosas. – disse a Sra. Magrosk. – Como se propunha na época um retorno aos modelos clássicos Greco-latinos e renascentistas, considerados fontes de equilíbrio e simplicidade, o Arcadismo também é denominado Neoclassicismo...
Essa aula também passou rápido. Acho que as aulas de literatura passavam rápido porque eu prestava tanta atenção, que não via o tempo passa. Poderiam ter passado horas e horas, mas eu ainda acharia que passou rápido. Eu definitivamente amava literatura.
Eu estava na frente do meu armário guardando minha mochila; já vestia o uniforme para a aula de Defesa Pessoal, que consistia em uma calça de malha vermelha e uma camiseta colada branca que – para a minha total vergonha – deixava transparecer o meu sutiã de bojo branco com rendas vermelhas. Bem, eu poderia colocar outra camiseta, sim? Não! Semana passada eu vestia uma camiseta preta, porque eu ainda não tinha uniforme para essa aula, mas agora eu tenho o uniforme e tenho que usá-lo.
Cheguei ao ginásio e Mark disse:
- Melany, o de sempre, ok? Corrida e levantamento de peso vinte minutos de cada. Depois eu venho falar com você.
- Está bem, Sr. Scabio.
- Pode me chamar de Mark, Melany. – ele disse com um pequeno sorriso.
- Ok, Mark. – sorri também.
Fui para a esteira, coloque o fone do meu Ipod no ouvido e comecei a correr.
Quarenta minutos depois eu já tinha corrido e levantado peso. Eu podia sentir que estava ficando mais resistente. Vinte minutos de corrida e vinte minutos de levantamento de peso já não era nada.
- Melany, nesses vinte minutos restantes vou te ensinar uns golpes de luta, ok?
- Tudo bem.
- Vem, vamos pegar uns bonecos.
Pegamos dois bonecos de treino e os alinhamos na parte traseira do ginásio – na área de treinamento em grupo. Enquanto isso os outros alunos foram para a musculação.
- Vamos começar. – disse Mark.
Eu assenti.
- Pernas paralelas, alinhadas com o quadril e os ombros...
Enquanto ele ia falando eu ia fazendo exatamente o que ele ia dizendo.
- Chuta. Direita, direita. Esquerda, esquerda... Isso muito bem.
Passamos os últimos vinte minutos da aula assim. Dando chutes nas costelas dos bonecos. Sem socos infelizmente.
- Melany, você se saiu muito bem. – disse Mark.
- Obrigada.
- Dispensados. – disse ele virando-se para os outros alunos. - Diogo, vem aqui fazendo favor.
- Sim Mark. – disse Diogo.
- Hoje, você começa a passar lições de combate corpo-a-corpo para Melany, ok?
- Claro. – ele disse e sorriu pra mim.
Sorri também para ele e falei para o Mark:
- Posso ir?
- Oh, sim pode.
- Tchau.
- Tchau.
- Até mais tarde Melany. – Diogo disse.
- Até.
Saí do ginásio passei pelo meu armário peguei, minha mochila e fui para o vestiário trocar de roupa.
Sentei no banco do vestiário para calçar a sapatilha que tinha tirado para tomar banho, então aconteceu... de novo.
Eu estava em uma sala feita de madeira, nela havia dois sofás de couro negro, uma mesa de centro de madeira cor mogno e com o tampão de vidro, sobre a mesa estava um porta-retrato com uma foto de uma mulher grávida, a mesma mulher que tinha visto antes.
Ouvi passos e logo a mulher da foto entrou na sala acompanhada por dois homens.
Os homens eram bem altos, morenos, cabelos negro-azulado - como os meus -, olhos azul-celeste, aparentemente eram irmãos e eu não me surpreenderia se fossem gêmeos, já que tinham traços muito semelhantes e era realmente difícil distingui-los. A única diferença aparente era que usava uma aliança no dedo anelar da mão esquerda, assim como a mulher.
Eles eram casados. Dãã, grande descoberta!
- Ela é minha filha! – disse a mulher.
- Eles não vão nos deixar em paz até que a peguem. Essa é a melhor solução! – disse o homem sem a aliança.
- Diga, diga a ele que nós não vamos deixá-la! – disse a mulher ao marido.
- Amor, é a melhor alternativa. Se ficarmos com ela, eles a pegarão!
- Não! – a mulher disse chorando.
O homem a abraçou e disse:
- Ela ficará bem, amor, é o melhor para ela! Eu também não gosto da ideia, mas não quero nossa filha correndo em perigo.
- Tampouco eu gosto da ideia da minha sobrinha longe de nós, mas é o melhor para ela. Quando ela crescer mais nós a pegamos de volta e...
Tudo ficou escuro de repente. Pisquei, fechei os olhos bem apertados e quando os abri eu encarava a parede branca do vestiário.
Respirei fundo. O que foi isso?
Olhei o relógio e já tinha passado da hora do almoço. Merda! Pequei minhas coisas e fui para a aula.
O resto do dia passou voando e sem mais nenhum visão bizarra.
A aula extra de magia foi a mesma coisa de sempre: sem nenhum progresso significativo.
Cheguei no ginásio para o meu treinamento com Diogo e – só para variar! - ele ainda não estava lá. Isso já estava virando rotina. Todo dia era a mesma coisa.
Sentei em um dos colchonetes azuis para esperar o Diogo.
Vinte minutos depois a porta do ginásio abriu.
- Você esta vinte minutos atrasado... de novo. – eu disse sem me virar para ele.
- Desculpa. – ele disse.
- Ok, vamos começar logo. – eu disse de mau humor.
- Sim vamos.
Começamos com o de sempre: corrida e levantamento de peso. Depois de quarenta minutos disso nó começamos a lutar de verdade.
- Melany, vamos começar com alguns chutes. Igual aos que você estava treinando com o Mark, certo?
- Certo.
Ficamos treinando por mais ou menos uma hora, mas só treinamos chutes. Eu já estava bem melhor. Diogo podia ser impontual, mas ele era um bom instrutor.
- Você estava muito bem, Melany, tem certeza que hoje foi a primeira vez que você treinou chutes?
- Tenho.
- Parece que você faz isso a um bom tempo, você é muito forte para uma vampira da sua idade.
- Obrigado... eu acho. – eu disse. – Posso ir ou nós vamos treinar mais?
- Está com pressa?
- Um pouco.
- Posso saber por quê?
- Tenho assuntos a resolver.
- Posso ajudar em algo?
- Não, isso está fora do seu alcance. Mas mesmo assim obrigada.
- Disponha. – ele disse com um sorriso sedutor. – Se precisar é só chamar, farei de tudo para ajudar.
- Ok, obrigada. – eu disse fingindo que não percebi o duplo sentido dessa ultima frase. Quando estava na porta do ginásio encarei-o de novo. – Da próxima vez que você precisar se atrasar, me avise, por favor.
E assim saí sem esperar resposta.
Cheguei ao meu quarto, antes de tomar banho coloquei um copo de sangue no micro-ondas, saí do banho, vesti uma calça jeans e uma regata, tomei o sangue, e me joguei na cama.
Minha mente estava longe, mais precisamente naquelas visões que eu tive. Deus, aquelas pessoas! Suas características físicas eram tão parecidas com as minhas. Os olhos daquela mulher, os cabelos daqueles homens, até o formato dos olhos dos homens e os lábios da mulher eram iguais aos meus!
E aquela criança, aquela menina a quem a mulher chamava de filha era tão parecida comigo.
Será que eles eram os meus pais? Mas por que essas visões agora, a essa altura da minha vida.
Lágrimas silenciosas escorreram por minhas bochechas. Deus, o que estava havendo comigo?
Meu celular fez um bipe indicando que eu tinha uma mensagem. Peguei-o e vi que a mensagem era Isabel.
“Mel, estamos no refeitório. Você vem jantar ou vai passar também?”
Suspirei, eu não queria ir, mas já não tinha almoçado e estava com fome a pesar de ter tomado sangue.
“Estou indo.” - mandei de volta.
Relutante, me levantei da cama e fui ao refeitório. Chegando lá e fui direto para a fila do Buffet - que não estava grande devi ao horário -, peguei o de sempre, arroz, frango grelhado, salada e um copo de suco.
O pessoal estava sentado em nossa mesa habitual. Marcelo já estava comendo e Carol bebia um copo de sangue. Sentei-me entre Carol e Marcelo, Isabel e Bruno estavam de frente para nós.
- Oi, pessoal. – eu disse.
- Achei que você não viesse jantar hoje. – disse Marcelo.
- Por que você não almoçou com a gente hoje, Mel? – perguntou Carol.
- Longa história.
- Mel, sentimos sua falta ontem no piquenique. – disse Bruno.
- Também senti falta de vocês.
- Treinou muito? – disse Marcelo.
- Treinei bastante.
- Você está bem, Mel? – perguntou Isabel.
Não! – pensei.
- Sim. – eu disse. Como explicar para eles o que nem eu entendia?!
O resto do jantar foi silencioso. Quando acabamos fomos para o dormitório ainda sem dizer nada.
***
A semana passou em um piscar de olhos. Não tive mais visões e eu agradeci por isso.
A quinta-feira chegou e logo já estava no fim, as aulas passaram como um borrão e a hora do meu treinamento com Diogo já chegara.
Cheguei ao ginásio e Diogo não estava lá de novo. Ele se atrasava todos os dias. Eu já estava pelas tampas com ele.
Meia hora depois ele chegou.
- Você está atrasado... de novo. – disse eu nem me incomodando em olhá-lo.
- Desculpa. – ele disse.
Encarei-o.
- Desculpa?! Você chega atrasado todo dia, Diogo! Se você tem alguma coisa para fazer antes dos treinos e tem que chegar atrasado é só falar! Poxa, eu tem mais o que fazer do que ficar aqui igual uma lesa te esperando todo dia! – eu disse. Bem, na verdade eu não tinha nada pra fazer, mas ele não precisava saber disso.
- Você esta na TPM? – ele perguntou ironicamente.
- Vampiras não menstruam. – eu disse cética. – E eu não estou brincando. – agora eu estava séria.
- Melany, eu não me atraso por que eu quero é só que... poxa, não custa nada esperar um pouquinho.
- O que? Todo dia? Claro que custa! – eu quase gritei. Agora eu estava realmente incrédula. Como ele podia dizer isso?!
Deixei Diogo me olhando com os olhos arregalados e saí do ginásio batendo a porta. Eu estava tão ‘fula da vida’ que nem vi que alguém estava parado fora do ginásio de costas para mim.
Bati com tudo em suas costas quase caindo... sim quase por que mais rápido do que meus olhos puderam acompanhar ele virou-se e segurou-me pela cintura roçando ligeiramente nossos corpos. Era ele. Marco.
Senti seu cheiro antes de ver seus olhos. Que cheiro maravilhoso e, Deus, que corpo era aquele! Finalmente olhei em seus olhos. Eles estavam um tanto divertidos acompanhando aquele meio sorriso perfeito enquanto eu me endireitava para ficar em pé por meus próprios pés.
Sorri.
- Desculpe. – eu disse ainda sorrindo bobamente.
Ele apenas sorriu. E eu sorri ainda mais.
Arg! Eu tenho que parar com isso.
- Melany! – chamou Diogo.
Virei em direção a parta do ginásio e vi Diogo saindo por ela.
- Melany, serio desculpa é que... – Diogo parou abruptamente ao ver Marco. – Oi Marco. – ele disse com tom de voz frio.
Fiquei confusa. Eles não eram amigos?
- Oi Diogo. – disse Marco depois de um instante. Sua expressão era de confusão assim como a minha.
- Bem, Melany, desculpe, eu...
- Diogo, agora eu estou com bastante raiva e nada que você disser vai fazer eu te desculpar, então depois a gente conversa, ok? – eu disse interrompendo-o.
Marco nos olhava com uma mistura de confusão e outra emoção que eu não soube identificar.
- Você não vai treinar hoje?
- Não, e nem sei quando venho amanhã, mas ao contrario de você, eu vou avisar. – eu disse saindo.
- O que eu vou dizer para o Mark? – perguntou Diogo.
- Não sei.
- Melany! – chamou Diogo.
- Hum? – disse virando para encará-lo.
- Sério, desculpa. Vamos conversar. Eu não devia ter feito aquela brincadeira... Você não pode ficar sem treinamento.
- Agora não, Diogo, como eu disse ainda estou com raiva. Passe bem.
- Melany. – chamou Diogo outra vez, mas agora eu não voltei.
- Deixe-a ir, Diogo. – disse Marco.
- Não me diga o que eu tenho ou não que fazer, Marco. – disse Diogo com a voz mais fria do que antes.
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*Zwischen = entre;
**Entschuldigung für Verspätung = Desculpe a demora.
ps: meninas eu não sei se a escrita é exatamente essa, pq eu tirei da net, pois ñ entendo nadinha de alemão =D
**Entschuldigung für Verspätung = Desculpe a demora.
ps: meninas eu não sei se a escrita é exatamente essa, pq eu tirei da net, pois ñ entendo nadinha de alemão =D
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