Capitulo Sete

domingo, 31 de julho de 2011.
Começamos com uns exercícios leves, até pra mim. Mas depois fomos para os exercícios mais difíceis.

Depois de um tempo eu disse:

- Hei, posso te fazer um pergunta indiscreta? – eu disse olhando para o Diogo.

Ele me olhou por um batimento de coração. E então disse sorrindo suavemente:

- Eu não tenho namorada.

Que cara convencido!

- Não era isso que eu queria saber. – rebati, mas confesso que foi bom saber, pensei.

- Oh, desculpe. – ele disse um pouco sem graça.

- Ah, esquece. – eu disse sorrindo.

- O que você quer saber?

- Nada de mais. Eu só estava me perguntando quantos anos você tem. Eu sei que é falta de educação perguntar isso. Você não precisa responder. – disse desviando meus olhos dos dele.

- Ah, eu tenho duzentos anos.

- Duzentos? – perguntei chocada.

- Muito velho pra você? – disse sorrindo.

Eu estava enxergando mal ou aquele sorriso era sedutor?

Eu realmente precisava da terapia.

- Er... não é só que... qual é o que mais você tem para aprende?

- Na verdade a maioria dos que estão aqui é para se reciclar ou para passar o tempo. Quando você é imortal a vida pode ficar um pouco entediante.

- Hum... imagino. – eu disse pensativa.

- É sua primeira vez numa academia, não é? – ele perguntou.

- Sim.

- Quantos anos você tem? – ele perguntou realmente curioso.

- Cinquenta e cinco.

- Por que só agora você veio para a academia?

- Bem, se fosse pelo meu pai...

- Pai? – ele perguntou me interrompendo.

- Meu criador.

- Ahã.

- Bem, com eu ia dizendo se fosse pelo meu pai eu já teria vindo há muito tempo. Mas eu nunca quis sair de perto dele. E como eu tenho um gênio levemente difícil eu bati o pé todos esses anos.

- Levemente difícil? – ele disse rolando os olhos.

- Hei, eu não sou tão difícil assim!

- Ahãm sei. – disse sorrindo.

O que? Ele nem me conhecia e já ia dizendo que eu era difícil?

- Qual é o seu elemento, Diogo? – eu perguntei mudando de assunto. Antes que eu me estressasse com ele.

- Terra. O seu é ar, não é?

- Sim. – respondi mesmo sabendo que ele já sabia.

Como se todo mundo já não soubesse.

O silencio caiu.

Eu olhava para as minhas mãos então não podia ver para onde Diogo estava olhando.

- Diogo?

- Sim?

- Você já lutou contra um lobisomem? – perguntei em voz baixa.

Eu não sei por que perguntei isso a ele, mas...

- Sim, duas vezes. E você?

- Eu nunca lutei contra nenhum lobisomem. Mas já vi um. Um não – corrigi-me. - sete.

- Sete? – ele perguntou incrédulo.

- Sim, foi no dia da minha transformação. Eu estava fazendo trilha com uns amigos em uma floresta quando eles apareceram. – estremecei com a lembrança, mas continuei. – Sete lobisomens enormes e aterrorizadores. A última coisa que me lembro é de um daqueles monstros vindo em minha direção. – estremeci novamente.
Senti os braços fortes de Diogo me abraçarem.

- Eu ainda tenho pesadelos com eles, mesmo depois de todos esses anos.

Diogo me apertou gentilmente em seus braços.

- Sabe na noite em que eu descobri o meu elemento eu estava tendo esse pesadelo. Eu acordei tão aterrorizada pelo pesadelo que eu nem percebi que não estava na cama. E quando eu tentei levantar e vi que estava no ar o terror aumentou. E eu não sabia o que estava acontecendo. Foi por isso que eu não quis deixar Daniel. Ele é a única coisa próxima de família que eu tenho. Sempre quis estar com ele quando descobrisse meu elemento.

Diogo me apertou novamente. 

- Eu tenho tanto medo de não conseguir. De não ser forte o suficiente...

Foi aí que eu percebi que estava chorando.

- Oh, desculpe, geralmente não sou assim, tão melodramática. – disse timidamente.

- Shhh. – ele disse.

O que estava acontecendo comigo? Porque eu estava contando isso para ele? Por que eu resolvi desabafar logo com uma pessoa que acabei de conhecer?
É eu precisava de terapia urgente.

Nós ficamos em silencio por alguns minutos.

- Você sempre viveu entre humanos, não é? – ele disse em uma tentativa obvia de mudar de assunto.

Então eu percebi que ele ainda estava com os braços ao meu redor.

- Sim. – disse saindo do abrigo de seus braços. – E não era tão ruim. A parte mais chata é ter que fingir.

- Imagino... – disse pensativo. – Você deve ser super resistente a cheiro de sangue então.

Pude ouvir sua risada, mas não tive coragem de encará-lo depois de tudo o que eu disse.

Ele deveria esta me achando uma idiota. O que não era novidade. Acho que todo mundo dessa academia me acha idiota.

Ele não disse mais nada e então percebi que estava esperando uma resposta.

- Não, nem tanto. Eu tenho bastante autocontrole, quando você vive no meio de humanos é preciso, mas não super resistência.

- É, sangue direto da fonte? Irresistível. - ele disse rindo.

Eu tive que rir também. Ri e decidi encará-lo. Uma hora eu ia ter que fazer isso mesmo.

Virei-me e o aqueles olhos azul-escuros penetrantes, intensos estavam me encarando.

- Sim, irresistível. – eu disse sorrindo.

Ele continuou olhando diretamente nos meus olhos e eu sustentei seu olhar.

- Você não parece ter cinquenta e cinco anos. – ele disse com a voz baixa.

- Eu sei. – respondi com a voz baixa também.

Ele sorriu.

Eu sorri.

Diogo abaixou o olhar para o relógio e disse:

- Bem, nosso horário acabou. – ele foi em direção a porta do ginásio. – A gente se vê amanhã.

- Sim. – respondi.

Ele saiu.

Eu peguei minha mochila lilás e sai também.

Saindo do ginásio encontrei com Isabel e Carol indo para o dormitório.

- Hei, meninas!

- Hei.

- Hei.

- E aí Mel, como foi a aula? – disse Isabel.

- Deve ter sido um saco! – disse Carol.

- Não até que a aula foi legal. – eu disse.

Principalmente a parte em que Diogo me abraçou, pensei.

- Quem é o seu instrutor? – perguntou Isabel.

- É o Diogo.

- Que Diogo? – perguntaram juntas.

- Diogo Salles.

- O que? – disseram, não, gritaram juntas novamente.

- O que pergunto eu. – disse calmamente. – Para que todo esse escândalo?

É claro que eu sabia o porquê de todo o escândalo. Diogo era simplesmente lindo!

- Eu não acredito, Mel! O Diogo é muito lindo! – disse Carol.

- Carol, o Diogo é lindo. Mas em questão de beleza ninguém supera o Marco, ele é simplesmente perfeito. – disse Isabel, enfatizando “perfeito”.

- Ok, meninas vamos parar de discutir a beleza dos gatos dessa academia e vamos falar sobre o nosso dia de meninas.

- Sim, sim! – disse Carol, super animada. – Eu estou louca para fazer logo esse dia de meninas.

- Eu também. – disse Isabel. – Mal posso esperar. 

- Vamos lá para o meu quarto. Aí a gente pode conversar melhor. Marcar o dia, o que vamos faze e tudo mais.

- Então vamos. – disse Carol.

Fomos para o meu quarto combinamos tudo direitinho. Resolvemos fazer no sábado, não tínhamos aulas nos fins de semana e que poderíamos sair da academia para fazer compras e tudo mais.

Isso ia ser divertido!

Depois que elas foram embora tomei um banho, um pouco de sangue e fui dormir.

Eu estava na mesma floresta em que encontrei aqueles lobisomens.

Oh, não, Deus, não! Esse pesadelo de novo não!

Por que é que eu fui falar com o Diogo sobre isso hoje? Eu não merecia isso!

Esse pesadelo duas vezes na mesma semana?!

Era demais para mim!

Aquele lobisomem de pêlos marrons, olhos negros como a meia-noite, dentes enormes, vindo em minha direção naquela corrida agressiva.

Eu como sempre estava aterrorizada.

Mas então em vez de me atacar o lobisomem parou e ficou me olhando.

Aqueles olhos negros profundos e aí...

Acordei com alguém me sacudindo freneticamente.

Abri os olhos e vi Isabel me olhando preocupada.

- Mel! Mel!

- Isabel? – perguntei ainda sonolenta.

- Mel! Você esta bem? – disse com a mesma expressão preocupada.

- Eu... – droga! Ainda estava meio grogue. – Eu estou bem. O que aconteceu?

- Não sei eu ouvi um grito e vim ver se você estava bem. Bati na porta, mas você não abriu e tudo ficou silencioso aqui dentro, então abri a porta e você estava suspensa no ar a uns vinte centímetros da cama.

De novo?

Será que eu só levitava quando eu tinha pesadelos?

- Eu estou bem Isabel. Não foi nada de mais, só um pesadelo, só isso. Obrigado por se preocupar. – eu disse.

- Disponha. Amigos são para essas coisas. E não precisa se preocupar não falarei para ninguém. Boa noite. – dizendo saiu e fechou a porta brandamente.

Levantei da cama e fui para o banheiro.

Olhei-me no espelho e vi o que sempre via. Meus olhos verdes, minha pele morena, meus cabelos negos, nada fora do normal.

Voltei para a cama e adormeci de novo. Sem sonhos. 

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