Começamos com uns exercícios leves, até pra mim. Mas depois fomos para os exercícios mais difíceis.
Depois de um tempo eu disse:
- Hei, posso te fazer um pergunta indiscreta? – eu disse olhando para o Diogo.
Ele me olhou por um batimento de coração. E então disse sorrindo suavemente:
- Eu não tenho namorada.
Que cara convencido!
- Não era isso que eu queria saber. – rebati, mas confesso que foi bom saber, pensei.
- Oh, desculpe. – ele disse um pouco sem graça.
- Ah, esquece. – eu disse sorrindo.
- O que você quer saber?
- Nada de mais. Eu só estava me perguntando quantos anos você tem. Eu sei que é falta de educação perguntar isso. Você não precisa responder. – disse desviando meus olhos dos dele.
- Ah, eu tenho duzentos anos.
- Duzentos? – perguntei chocada.
- Muito velho pra você? – disse sorrindo.
Eu estava enxergando mal ou aquele sorriso era sedutor?
Eu realmente precisava da terapia.
- Er... não é só que... qual é o que mais você tem para aprende?
- Na verdade a maioria dos que estão aqui é para se reciclar ou para passar o tempo. Quando você é imortal a vida pode ficar um pouco entediante.
- Hum... imagino. – eu disse pensativa.
- É sua primeira vez numa academia, não é? – ele perguntou.
- Sim.
- Quantos anos você tem? – ele perguntou realmente curioso.
- Cinquenta e cinco.
- Por que só agora você veio para a academia?
- Bem, se fosse pelo meu pai...
- Pai? – ele perguntou me interrompendo.
- Meu criador.
- Ahã.
- Bem, com eu ia dizendo se fosse pelo meu pai eu já teria vindo há muito tempo. Mas eu nunca quis sair de perto dele. E como eu tenho um gênio levemente difícil eu bati o pé todos esses anos.
- Levemente difícil? – ele disse rolando os olhos.
- Hei, eu não sou tão difícil assim!
- Ahãm sei. – disse sorrindo.
O que? Ele nem me conhecia e já ia dizendo que eu era difícil?
- Qual é o seu elemento, Diogo? – eu perguntei mudando de assunto. Antes que eu me estressasse com ele.
- Terra. O seu é ar, não é?
- Sim. – respondi mesmo sabendo que ele já sabia.
Como se todo mundo já não soubesse.
O silencio caiu.
Eu olhava para as minhas mãos então não podia ver para onde Diogo estava olhando.
- Diogo?
- Sim?
- Você já lutou contra um lobisomem? – perguntei em voz baixa.
Eu não sei por que perguntei isso a ele, mas...
- Sim, duas vezes. E você?
- Eu nunca lutei contra nenhum lobisomem. Mas já vi um. Um não – corrigi-me. - sete.
- Sete? – ele perguntou incrédulo.
- Sim, foi no dia da minha transformação. Eu estava fazendo trilha com uns amigos em uma floresta quando eles apareceram. – estremecei com a lembrança, mas continuei. – Sete lobisomens enormes e aterrorizadores. A última coisa que me lembro é de um daqueles monstros vindo em minha direção. – estremeci novamente.
Senti os braços fortes de Diogo me abraçarem.
- Eu ainda tenho pesadelos com eles, mesmo depois de todos esses anos.
Diogo me apertou gentilmente em seus braços.
- Sabe na noite em que eu descobri o meu elemento eu estava tendo esse pesadelo. Eu acordei tão aterrorizada pelo pesadelo que eu nem percebi que não estava na cama. E quando eu tentei levantar e vi que estava no ar o terror aumentou. E eu não sabia o que estava acontecendo. Foi por isso que eu não quis deixar Daniel. Ele é a única coisa próxima de família que eu tenho. Sempre quis estar com ele quando descobrisse meu elemento.
Diogo me apertou novamente.
- Eu tenho tanto medo de não conseguir. De não ser forte o suficiente...
Foi aí que eu percebi que estava chorando.
- Oh, desculpe, geralmente não sou assim, tão melodramática. – disse timidamente.
- Shhh. – ele disse.
O que estava acontecendo comigo? Porque eu estava contando isso para ele? Por que eu resolvi desabafar logo com uma pessoa que acabei de conhecer?
É eu precisava de terapia urgente.
Nós ficamos em silencio por alguns minutos.
- Você sempre viveu entre humanos, não é? – ele disse em uma tentativa obvia de mudar de assunto.
Então eu percebi que ele ainda estava com os braços ao meu redor.
- Sim. – disse saindo do abrigo de seus braços. – E não era tão ruim. A parte mais chata é ter que fingir.
- Imagino... – disse pensativo. – Você deve ser super resistente a cheiro de sangue então.
Pude ouvir sua risada, mas não tive coragem de encará-lo depois de tudo o que eu disse.
Ele deveria esta me achando uma idiota. O que não era novidade. Acho que todo mundo dessa academia me acha idiota.
Ele não disse mais nada e então percebi que estava esperando uma resposta.
- Não, nem tanto. Eu tenho bastante autocontrole, quando você vive no meio de humanos é preciso, mas não super resistência.
- É, sangue direto da fonte? Irresistível. - ele disse rindo.
Eu tive que rir também. Ri e decidi encará-lo. Uma hora eu ia ter que fazer isso mesmo.
Virei-me e o aqueles olhos azul-escuros penetrantes, intensos estavam me encarando.
- Sim, irresistível. – eu disse sorrindo.
Ele continuou olhando diretamente nos meus olhos e eu sustentei seu olhar.
- Você não parece ter cinquenta e cinco anos. – ele disse com a voz baixa.
- Eu sei. – respondi com a voz baixa também.
Ele sorriu.
Eu sorri.
Diogo abaixou o olhar para o relógio e disse:
- Bem, nosso horário acabou. – ele foi em direção a porta do ginásio. – A gente se vê amanhã.
- Sim. – respondi.
Ele saiu.
Eu peguei minha mochila lilás e sai também.
Saindo do ginásio encontrei com Isabel e Carol indo para o dormitório.
- Hei, meninas!
- Hei.
- Hei.
- E aí Mel, como foi a aula? – disse Isabel.
- Deve ter sido um saco! – disse Carol.
- Não até que a aula foi legal. – eu disse.
Principalmente a parte em que Diogo me abraçou, pensei.
- Quem é o seu instrutor? – perguntou Isabel.
- É o Diogo.
- Que Diogo? – perguntaram juntas.
- Diogo Salles.
- O que? – disseram, não, gritaram juntas novamente.
- O que pergunto eu. – disse calmamente. – Para que todo esse escândalo?
É claro que eu sabia o porquê de todo o escândalo. Diogo era simplesmente lindo!
- Eu não acredito, Mel! O Diogo é muito lindo! – disse Carol.
- Carol, o Diogo é lindo. Mas em questão de beleza ninguém supera o Marco, ele é simplesmente perfeito. – disse Isabel, enfatizando “perfeito”.
- Ok, meninas vamos parar de discutir a beleza dos gatos dessa academia e vamos falar sobre o nosso dia de meninas.
- Sim, sim! – disse Carol, super animada. – Eu estou louca para fazer logo esse dia de meninas.
- Eu também. – disse Isabel. – Mal posso esperar.
- Vamos lá para o meu quarto. Aí a gente pode conversar melhor. Marcar o dia, o que vamos faze e tudo mais.
- Então vamos. – disse Carol.
Fomos para o meu quarto combinamos tudo direitinho. Resolvemos fazer no sábado, não tínhamos aulas nos fins de semana e que poderíamos sair da academia para fazer compras e tudo mais.
Isso ia ser divertido!
Depois que elas foram embora tomei um banho, um pouco de sangue e fui dormir.
Eu estava na mesma floresta em que encontrei aqueles lobisomens.
Oh, não, Deus, não! Esse pesadelo de novo não!
Por que é que eu fui falar com o Diogo sobre isso hoje? Eu não merecia isso!
Esse pesadelo duas vezes na mesma semana?!
Era demais para mim!
Aquele lobisomem de pêlos marrons, olhos negros como a meia-noite, dentes enormes, vindo em minha direção naquela corrida agressiva.
Eu como sempre estava aterrorizada.
Mas então em vez de me atacar o lobisomem parou e ficou me olhando.
Aqueles olhos negros profundos e aí...
Acordei com alguém me sacudindo freneticamente.
Abri os olhos e vi Isabel me olhando preocupada.
- Mel! Mel!
- Isabel? – perguntei ainda sonolenta.
- Mel! Você esta bem? – disse com a mesma expressão preocupada.
- Eu... – droga! Ainda estava meio grogue. – Eu estou bem. O que aconteceu?
- Não sei eu ouvi um grito e vim ver se você estava bem. Bati na porta, mas você não abriu e tudo ficou silencioso aqui dentro, então abri a porta e você estava suspensa no ar a uns vinte centímetros da cama.
De novo?
Será que eu só levitava quando eu tinha pesadelos?
- Eu estou bem Isabel. Não foi nada de mais, só um pesadelo, só isso. Obrigado por se preocupar. – eu disse.
- Disponha. Amigos são para essas coisas. E não precisa se preocupar não falarei para ninguém. Boa noite. – dizendo saiu e fechou a porta brandamente.
Levantei da cama e fui para o banheiro.
Olhei-me no espelho e vi o que sempre via. Meus olhos verdes, minha pele morena, meus cabelos negos, nada fora do normal.
Voltei para a cama e adormeci de novo. Sem sonhos.
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